Título: Corrida contra o tempo, durante a madrugada
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 01/07/2010, O País, p. 4

Até Aécio Neves viajou a São Paulo para ajudar a resolver o impasse

BRASÍLIA e SÃO PAULO. A maratona de reuniões para solucionar o impasse entre PSDB e DEM para a escolha do vice na chapa tucana mobilizou figuras expoentes dos dois partidos e até mesmo o ex-governador Aécio Neves (PSDB-MG), que andava distante nos últimos dias das articulações para a campanha presidencial. Vice que Serra sonhou até o último instante para compor sua chapa, Aécio foi tirado da cama à 1h da madrugada de ontem e embarcou num jatinho para São Paulo para ajudá-lo na etapa final das negociações com o aliado DEM, partido com o qual o mineiro alimentou boa relação.

O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), e o prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM), chegaram a São Paulo para o encontro com Serra no início da madrugada. A reunião só terminou por volta das 5h20m da manhã, com a certeza de que o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) não seria mais o vice de Serra. Desmontado o argumento principal do PSDB de que a escolha de Álvaro Dias prejudicaria Dilma Rousseff no Paraná, Rodrigo Maia chegou ao encontro com Serra com o discurso pronto:

- Para ganhar a eleição, o PSDB precisa do DEM unido, e o que mais poderá unir e motivar o nosso partido é a indicação de um vice nosso.

Nesse encontro, os tucanos ainda tentaram emplacar outros representantes do partido no lugar de Dias - o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) e o senador Flávio Arns (PSDB-PR). Mas, àquela altura, o PSDB tinha perdido seu discurso, e o DEM foi crescendo na negociação.

- O argumento decisivo para a minha candidatura a vice era de que o meu nome iria unir o Paraná. Quando foi anunciado que essa unidade estava desfeita por causa da candidatura do meu irmão, o DEM ganhou força. Diante disso, o próprio Serra decidiu acolher as ponderações do DEM - reconhecia Álvaro Dias.

- O nome do Álvaro tinha todas as qualificações. Mas aconteceu algo surpreendente, caiu o principal argumento. A partir do momento em que Osmar informou que iria disputar, criou-se um ambiente de insustentabilidade - argumentou o deputado Jutahy Junior (PSDB-BA).

Foi acertada então uma nova reunião na hora do almoço para a escolha do vice. O primeiro consenso entre DEM e PSDB é que deveria ser um nome de um político com perfil jovem. Vários nomes de tucanos e democratas foram avaliados. Foi então que Rodrigo Maia sugeriu a indicação do deputado Indio da Costa.

Apesar de ser um deputado de primeiro mandato, pesou na escolha o fato de ele ter sido relator do projeto Ficha Limpa. Também agradou Serra o fato de Indio ser do Rio, terceiro colégio eleitoral do país e estado onde é preciso reforçar a campanha, pois a petista Dilma Rousseff já ultrapassou o tucano na região Sudeste.

No PSDB, havia forte resistência à indicação de um político do DEM para a chapa de Serra, por causa do recente desgaste do partido com o escândalo do mensalão do DEM, no Distrito Federal, que motivou a expulsão da legenda do ex-governador José Roberto Arruda.

A reviravolta sobre o candidato a vice de Serra teve início na noite de terça-feira. Reunidos na residência do senador Heráclito Fortes (DEM-PI), os principais caciques do DEM perceberam que poderiam virar o jogo quando receberam a informação de que o senador Osmar Dias (PDT-PR) seria candidato ao governo do Paraná. A confirmação veio com um telefonema feito pelo deputado Abelardo Lupion (DEM-PR) ao próprio Osmar.

- Falei com Osmar e ele disse que seria candidato. Com isso, mudou o quadro sucessório no Paraná - disse Lupion.

Após bater o martelo com Serra, Rodrigo Maia admitiu que o nome de Indio nunca havia sido cogitado, mesmo tendo sido ele o único integrante do DEM que acompanhou o tucano na torcida da seleção brasileira no jogo contra a Coréia do Norte, no Rio de Janeiro.

- Foi um nome que se construiu ao longo das últimas horas, primeiro com diálogo com o (ex-governador mineiro) Aécio Neves, depois com o nosso candidato a presidente, até que chegamos ao nome dele - disse Rodrigo Maia, ontem, na saída da casa do presidenciável, depois de quatro horas de reunião.

COLABOROU: Flávio Freire