Título: Um pouco de realismo econômico
Autor:
Fonte: O Globo, 07/07/2010, Economia, p. 25

Digamos que você seja o líder do mundo livre. A economia está estagnada. Naturalmente, você vai querer fazer alguma coisa.

Muitos economistas dizem que precisamos de um novo pacote de estímulo. E discutem se o estímulo deveria ter a forma de corte de impostos ou aumento de gastos. Mas aqueles no seu partido estão comprometidos com aumento de gastos. Eles elaboram uma teoria plausível apoiada em modelos matemáticos. Se o governo federal investir X número de dólares e colocar na economia, isso vai produzir Y número de crescimento e Z número de empregos. Em uma economia de US$14 trilhões, provavelmente será necessário investir centenas de bilhões de dólares para ter algum efeito perceptível, mas pelo menos algo estaria sendo feito para ajudar o desempregado.

Esses teóricos a favor da demanda estão lhe oferecendo um plano de ação. Mas você não é um teórico. Você é um executivo pragmático, e tem algumas preocupações. Esses a favor da demanda têm altos QIs, mas não sabem lidar com dúvida e modéstia. Eles têm fé inabalável em seus modelos. Porém, todas as escolas de pensamento econômico erraram nos últimos anos. Então, você arriscaria uma insolvência baseando-se em modelos?

Além disso, os defensores da demanda escrevem como se qualquer um que discorde de suas ideias fosse um imoral ou um mentecapto. Mas, na verdade, muitos economistas premiados não concordam com um novo estímulo. Muitos líderes europeus e banqueiros centrais acham que é hora de começar a reduzir o endividamento público, em vez de elevá-lo. E então, você tem certeza de que seus teóricos estão certos e eles equivocados?

Os teóricos da demanda não têm uma boa explicação para os últimos dois anos. Não há como saber com certeza o quão eficaz foi o último estímulo, porque não sabemos o que teria acontecido sem ele. Mas é verdade que as torneiras fiscais foram escancaradas. Os EUA e a maioria dos outros países mergulharam em imensos e históricos déficits. E se de um lado isso ajudou a salvar empregos no setor público, certamente não fez crescer a oferta de emprego na área privada. Isso aconteceu porque o gasto do governo não é suficiente para se contrapor aos ciclos econômicos. Talvez a política monetária seja a única ferramenta forte que temos.

Os teóricos têm altos QIs, mas não parecem entender muito de psicologia. Lorde Keynes escreveu que o estado de confiança ¿é uma questão em relação a qual os homens práticos prestam a maior e mais ansiosa atenção¿. Hoje em dia, investimento do governo baseado em maior endividamento público não gera confiança. Em vez disso, a destrói. Apenas 6% dos americanos acham que o último pacote de estímulo criou empregos, segundo uma pesquisa do ¿New York Times¿/CBS News. Os consumidores ainda estão se recuperando de uma bolha provocada por endividamento e têm uma aversão a mais dívida.

Então, você tem suas dúvidas, mas é uma pessoa prática e quer fazer algo. Muito endividamento pode levar a uma catástrofe nacional. Muita austeridade pode levar à estagnação. Bem, há algumas coisas de curto prazo que podem ser feitas. Primeiro, amplie a concessão de seguro-desemprego; pois este é um setor ruim para se começar um equilíbrio fiscal. Segundo, é preciso mitigar a dor causada pelos governos estaduais que estão cortando os gastos. É necessário um programa que garanta dinheiro federal aos estados que se comprometerem com planos fiscais de longo prazo de redução de gastos. Isso poderia salvar empregos no setor público e aliviar as pressões de contração sem jogar o país numa espiral de endividamento fiscal.

Mas a mensagem geral é: não seja arrogante. Não faça mais dívida nem corte demais. Concentre-se no essencial.