Título: Estiagem na Argentina leva Brasil a autorizar transferência de energia
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 07/07/2010, Economia, p. 24

Setor diz que custo de R$2,3 bi vai para conta de luz, mas governo nega

Homologada ontem pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a transferência de até 2.100 megawatts (MW) de energia para a Argentina está causando reação em parte do setor. É o caso do Instituto Acende Brasil. Segundo o presidente da entidade, Claudio Sales, o consumidor brasileiro pagará mais pela cooperação entre os vizinhos do Mercosul, se em algum momento o governo brasileiro autorizar o repasse de energia hidráulica ao país vizinho.

A transferência de energia aos argentinos está sendo autorizada pelo sexto ano consecutivo e abrange o período de estiagem, de maio até agosto. A quantidade equivale a metade do que será gerada pela usina de Belo Monte.

Normalmente é fornecida energia térmica, paga em dinheiro pelos argentinos. Quando é oferecida energia hidráulica, a Argentina faz a devolução ao Brasil com o mesmo tipo de energia, sempre nos meses de setembro e novembro.

- A transferência de energia hidráulica traz um custo ao consumidor brasileiro. Esta água que é transferida para a Argentina não é o mesmo produto devolvido. Ela tem um custo adicional de R$2,3 bilhões repassados para a conta de luz dos brasileiros. Este valor é gasto para preservar os reservatórios das usinas hidrelétricas - explicou ele.

Para o presidente do Instituto Acende Brasil, a transação comercial poderia ser feita diretamente pelas empresas brasileiras, sejam elas públicas ou privadas. Desta forma, não estaria embutido o custo que os consumidores pagam.

Consumidor brasileiro não será onerado, diz governo

O secretário de Energia, do Ministério de Minas e Energia, Josias Matos de Araujo, rebateu as críticas. Ele explicou ainda que a prioridade sempre é o fornecimento de energia para os consumidores brasileiros. A sobra enviada para a Argentina, destacou, é energia de usinas térmicas, movidas a óleo combustível.

- Até o momento, só está sendo enviada energia térmica, que tem o valor mais elevado - disse Josias Araujo.

O secretário acrescentou que a energia térmica é totalmente paga em dinheiro pelo país vizinho, com todos os encargos. Cabe ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) decidir qual a usina que será ligada.

Araújo destacou que só há devolução de produto, quando é enviada energia hidráulica. Este tipo de energia é transferido se as usinas estão vertendo, isto é, tem muita água nos reservatórios e ela está sendo jogada fora.

- O consumidor brasileiro não está sendo onerado. A Argentina paga caro pela energia das térmicas - reforçou o diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner.

A exportação de energia para a Argentina será feita por intermédio da Companhia de Interconexão Energética (CIEN) e da Eletrosul.