Título: 'Minha candidata está madura para fazer campanha sem o presidente'
Autor:
Fonte: O Globo, 07/07/2010, O País, p. 9

Chico de Gois*, Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut

BRASÍLIA, NAIRÓBI e DAR ES-SALAM O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que a melhor contribuição que pode dar à candidata petista à Presidência, Dilma Rousseff, é fazer um bom governo. Negou que vá se licenciar do cargo para ajudar sua candidata, como já planejam integrantes da campanha petista. Sobre uma eventual licença do cargo, disse que não a considera factível. No comando da campanha de Dilma, a ordem ontem era não repercutir a possibilidade de uma licença de Lula. Passaria a impressão de que Dilma estaria com dificuldade ou fraqueza, o que os petistas refutaram ontem.

- Se um dia tivesse pensado em me afastar da Presidência para fazer campanha, me afastaria para ser candidato a alguma coisa. Seria leviandade achar que a gente abdicaria de um dia do mandato de presidente para se dedicar a alguma (outra) coisa - disse Lula.

Ontem, O GLOBO publicou que o comando do PT planeja que Lula se licencie na reta final da campanha, se a disputa estiver acirrada. Mas Lula afirmou que governará até o fim de seu mandato:

- O legado maior que posso deixar para a campanha da Dilma é o acerto cada vez maior do governo. Quanto mais o governo estiver melhor, mais posso ajudar a ministra Dilma a ser presidente - disse. - Posso gravar programa de rádio e de televisão. Isso atende muito mais gente do que um comício ou uma atividade pública.

Para Lula, Dilma não precisa mais de sua ajuda:

- Não há nada mais importante na minha vida do que governar o Brasil até 31 de dezembro (...) até porque acho que a minha candidata está madura para fazer campanha sem precisar da presença do presidente.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), afirmou ontem que não há previsão legal para que um presidente tire licença para fazer campanha:

- Só o fato de se cogitar isso já é uma indignidade. O presidente é eleito para governar para todos. Como pode deixar o governo e largar o mandato para fazer a campanha de alguns? Até porque, mesmo licenciado, continuará presidente. Além disso, não há previsão legal. Isso desequilibraria a democracia.

Em sua viagem à África, Lula chegou ontem a Dar-El Saalam, na Tanzânia, por volta de 18h15m (horário local). Antes, no Quênia, país que vive sob instabilidade política, frisou a necessidade de consolidação da democracia naquele país, diante do presidente Mwai Kibaki, cuja eleição, em 2007, foi considerada fraudulenta pela comunidade internacional.

A situação no Quênia é instável desde de 2007, quando Kibaki derrotou Raila Odinga. Odinga, então, convocou manifestações que deixaram pelo menos 350 mortos. Para acabar com o conflito, os dois adversários assinaram um acordo de reconciliação nacional que garantiu a Odinga o posto de primeiro-ministro. Em junho deste ano, Odinga passou por um cirurgia para drenar fluídos no cérebro e continua internado. Com sua ausência, volta a ameaça da instabilidade política.

* Enviado especial (Na África, o repórter viaja em avião da FAB devido às dificuldades de deslocamento)