Título: Na estreia, muitos improvisos
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Fonte: O Globo, 07/07/2010, O País, p. 9

Dilma, Serra e Marina têm primeiro dia oficial de campanha nas ruas, mas ainda acertando o passo

Dilma escolheu Porto Alegre para sua estreia oficial na ruas. Houve muito tumulto e confusão. Protegida por um cordão de seguranças e assediada por militantes e jornalistas, não conseguiu abordar a população para pedir votos. Acabou cancelando o almoço no Mercado Público de Porto Alegre, após ouvir as súplicas de assessores de que era "melhor dispersar".

A petista também teve dificuldades com o carro de som. Em onze minutos, o microfone sem fio falhou quatro vezes. No discurso, truncado, ela tentou explicar os motivos pelos quais quer ser presidente:

- Eu quero ser presidente do Brasil para continuar mudando o nosso país, para continuar fazendo não só com que este país cresça economicamente, mas que cresça do ponto de vista da melhoria de vida de milhões de brasileiros - completou, pouco antes da terceira falha do microfone.

Poucas bandeiras da campanha oficial de Dilma apareceram; predominavam as do PT. Não houve panfletagem no final do evento. A assessoria da Brigada Militar informou que entre 1 mil e 1,2 mil pessoas se concentraram na Esquina Democrática, no Centro da capital gaúcha. Apesar dos problemas, Dilma avaliou que o começo de campanha foi "maravilhoso":

Serra, que escolheu Curitiba para iniciar a campanha, também sofreu com a desorganização, além de falta de estrutura. Em sua caminhada pelo principal calçadão no Centro da cidade, faltaram santinhos. As bandeiras, feitas de última hora, tinham apenas o número 45 (PSDB), a foto e o nome do candidato ao governo estadual, o tucano Beto Richa, sem menção ao nome de Serra. O carro se som foi improvisado com uma bicicleta e uma caixa acústica. A equipe de Serra informou que ainda não forneceu à Justiça Eleitoral o CNPJ para começar a registrar as despesas de campanha, por isso a falta de material.

A caminhada pela Rua XV de Novembro foi tumultuada. Cercado por dezenas de jornalistas, seguranças e militantes, Serra mal conseguiu ter contato com os eleitores. Houve muitos empurrões, e o locutor chegou a pedir calma aos militantes. Serra acenou, distante, para a população. A ausência mais notada foi a do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que chegou a ser anunciado como vice de Serra, mas acabou preterido pelo deputado Indio da Costa (DEM-RJ). O tucano subiu em cima de um banquinho e, com um megafone nas mãos, na chamada Boca Maldita, discursou:

- Vou sair de Curitiba com muito mais energia do que cheguei. Minha campanha vai ser assim, no corpo a corpo, que nem todo mundo faz - afirmou, cutucando a adversária Dilma Rousseff (PT).

Serra foi hostilizado uma única vez, quando discursava. Um grupo gritou "Dilma, Dilma". Imediatamente, a militância respondeu: "Serra, Serra".

Marina optou por ter contato com poucos eleitores, em São Paulo. Ontem à tarde, visitou a casa de uma família em Campo Limpo, na periferia da capital paulista, onde vai funcionar o primeiro comitê domiciliar de sua campanha. A visita foi decidida na última hora. O promotor de vendas Adriano Prado Costa Silva, de 27 anos, contou ter recebido um telefonema, por volta das 9h de ontem, perguntando se poderia receber a candidata. O comitê domiciliar, onde havia só um banner pregado no portão e um lote de adesivos para serem colados em roupas, foi batizado de "Casa de Marina". A ideia é ter várias dessas espalhadas por cidades brasileiras.

O plano inicial da campanha era realizar ontem um evento no Rio com Fernando Gabeira, principal candidato do PV a um governo estadual. Mas Gabeira, que é deputado federal, foi a Brasília para participar de votações. Marina ficou 52 minutos na casa, onde moram 11 pessoas. Havia mais repórteres do que pontenciais eleitores no local.

- Como estou em São Paulo, vim inaugurar a Casa de Marina. Tivemos a felicidade de sermos acolhidos pelo Adriano. E vocês viram? Pela quantidade de pessoas que ele tem no caderno dele, não tem nada improvisado aqui - afirmou a candidata do PV. (Silvia Amorim, Ana Paula de Carvalho, Leila Suwwan, João Guedes e Sérgio Roxo)