Título: Contra a família
Autor: Costa, Milton Corrêa da
Fonte: O Globo, 05/07/2010, Opinião, p. 6

Aquestão da legalização da maconha precisa voltar à baila no momento em que a chamada "corrente progressista" vem insistindo com a descriminalização da Cannabis. Determinados casos policiais têm colocado em xeque os supostos benefícios da maconha. Ficou constatado, por exemplo, no exame toxicológico efetuado no jovem Carlos Eduardo Sandfeld Nunes, assassino confesso do cartunista Glauco Villas Boas e do seu filho Raoni, que ele se encontrava sob o efeito de maconha no momento do crime, em São Paulo. Ressalte-se que Cadu fuma Cannabis desde os 15 anos e apresentava surtos psicóticos.

Tais constatações remetem a uma recente pesquisa que relaciona psicose à droga, particularmente em sua forma mais potente, o skank. John McGrath, do Instituto Neurológico de Queensland, na Austrália, estudou o comportamento de mais de 3.800 homens e mulheres nascidos entre 1981 e 1984 e comparou seus comportamentos, após completarem 21 anos de idade, para perguntar-lhes sobre a maconha em suas vidas. Cerca de 18% relataram o uso de maconha por três anos ou mais, cerca de 16% de quatro a cinco anos e 14% durante seis ou mais anos.

Comparados aos que nunca haviam usado Cannabis, jovens adultos que tinham seis ou mais anos desde o primeiro uso da droga manifestavam duas vezes mais chances de desenvolverem psicose não afetiva, como esquizofrenia, concluiu McGrath. O estudo foi publicado na revista de psiquiatria "Archives of General Psychiatry".

Note-se que Cadu, segundo o próprio pai, já é esquizofrênico, muito embora apresente momentos de bastante lucidez, tendo inclusive premeditado o covarde crime em detalhes. Ressalte-se que, ainda segundo o pai, a entrada do jovem na Igreja Céu de Maria, uma seita da qual Glauco era líder e na qual é costume o uso do discutível chá do Santo Daime, teria contribuído para piorar o estado emocional de Cadu.

Ainda que conclusões científicas precisem ser relativizadas, mormente quanto a um tema tão polêmico - cada caso é um caso -, não se pode desconsiderar a importância de tais estudos na discussão sobre a legalização das drogas. Aos pais fica o alerta sobre as manifestas mudanças comportamentais de seus filhos. Entre elas, destacam-se a agressividade, o abandono do estudo e do trabalho, a desmotivação para o esporte, apatia, depressão, troca da noite pelo dia, hematomas nos braços, olhos constantemente avermelhados, lábios ressecados, gasto excessivo de dinheiro, delírios, sumiço de bens móveis em casa.

A desgraça que se abateu sobre a família de Cadu, e principalmente sobre os parentes do cartunista paulista e de seu filho, estes vítimas de um crime hediondo, não escolhe porta para bater. Neste caso, num possível plebiscito sobre a maconha, a maioria da população brasileira deverá escolher pelo bom senso. E o bom senso determina a proteção das futuras gerações com o posicionamento contrário à descriminalização da droga.

MILTON CORRÊA DA COSTA é tenente-coronel da Polícia Militar do Rio, na reserva.