Título: Sem empurrão da Copa
Autor: Mon, Hugo Alconada
Fonte: O Globo, 05/07/2010, O Mundo, p. 21

Derrota deve levar Casal K a nova estratégia

BUENOS AIRES. Os quatro gols da Alemanha fizeram mais do que eliminar a seleção argentina da Copa do Mundo. Num país onde a política é uma paixão quase tão grande quanto o futebol, jornalistas, psicólogos e politólogos não só analisavam os erros e acertos de Maradona e seus jogadores, como também o efeito que a derrota terá sobre a popularidade da presidente Cristina Kirchner e seu marido, provável candidato a sucessão, Nestor Kirchner.

O ¿La Nación¿ dedicou quase uma página sobre as mudanças de estratégia que o casal Kirchner terá de fazer para manter em alta sua popularidade agora que não conta mais com o ¿efeito Mundial¿. Desde as comemorações do bicentenário argentino, em 25 de maio, a imprensa tem noticiado a mudança do ¿humor político¿ argentino. Pela primeira vez em dois anos, as pesquisas registraram aumento de otimismo em relação ao futuro do país, e o governo não perdeu a oportunidade para tirar o maior proveito de uma possível vitória na Copa: gastou cerca de US$170 milhões para distribuir gratuitamente 1,2 milhão de decodificadores que permitiria à população assistir aos jogos transmitidos pelos canais públicos, com qualidade digital.

¿ É claro que uma vitória da seleção melhoraria o humor nacional, mas o efeito tem curta duração. O que conta é o desempenho da economia ¿ disse ao GLOBO o analista político Roberto Bacman.

A maior parte dos analistas políticos concorda com Bacman: o desempenho da seleção não vai pesar na reeleição de Cristina Kirchner ou de seu marido, em 2011. Mas para um assessor da Casa Rosada, uma Copa ¿é sempre uma oportunidade para fazer marketing do país¿.

¿ Adoro futebol, Maradona e Messi. Mas fico aliviado com a derrota. Ficaria com ódio se a vitória acabasse beneficiando os Kirchner ¿ desabafou Norberto Chaves, um fazendeiro de 53 anos.

Ontem, o jornal ¿Perfil¿ publicou uma pesquisa da Consultoria Management & Fit, segundo a qual Nestor Kirchner é o preferido para as eleições de 2011. Ele conta com o apoio de 17,8% do eleitorado. Mas, no segundo turno, segundo a pesquisa, será derrotado. Para o ¿La Nación¿, para aumentar a sua popularidade Kirchner agora terá de apostar na aprovação da lei legalizando o casamento gay.