Título: Bolsa Família volta à pauta no segundo dia de campanha
Autor: Freire, Flávio; Suwwan, Leila; Roxo; Sérgio
Fonte: O Globo, 08/07/2010, O País, p. 4
Para Dilma, não se pode crer em Serra, que promete aumento do benefício
SÃO PAULO. Pelo segundo dia consecutivo, desde o início oficial da campanha à Presidência, o Bolsa Família foi alvo de polêmica entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Dilma disse que não se pode confiar nas promessas de Serra de ampliar o benefício, porque houve uma redução de programas sociais em São Paulo, que foi governado pelo tucano. Serra, por sua vez, disse que levará o Bolsa Família a mais 15 milhões de famílias abaixo da linha de pobreza, mais do que dobrando o alcance do programa, que hoje chega a 12,6 milhões de famílias.
- Como eles podem fazer mais? Quando estavam no governo e podiam fazer, eles fizeram menos - disse Dilma. - A questão social não pode ser vista como uma questão que seja apenas apêndice, um anexo de programa do governo. Para nós, a questão social está no centro, não é um colorido, uma carta que você escreve se comprometendo - afirmou Dilma, referindo-se à carta assinada na véspera por Serra, em que ele se compromete com a ampliação do Bolsa Família.
Dilma participou ontem de um comício e discursou em cima de um carro de som em frente à Catedral da Sé, em São Paulo.
Em Jundiaí, na Região Metropolitana de São Paulo, Serra garantiu, em tumultuada entrevista, que há viabilidade econômica para aumentar o valor do benefício, gradativamente:
- Temos de incluir mais 15 milhões de famílias que estão abaixo da linha da pobreza, além de aumentar o valor. Basta um bom sistema de cadastramento e de distribuição.
No PSDB, a análise é que o teto do benefício pode alcançar R$255. Hoje, as bolsas às famílias variam de R$22 a R$200.
Marina: debate é "insegurança"
A candidata Marina Silva, do PV, também entrou na briga e disse que o debate entre os dois adversários reflete a insegurança que eles teriam em relação ao combate à pobreza.
- Vejo como uma insegurança. Quando se tem um compromisso visceral com o combate à pobreza, como teve o presidente Lula e como sei que tenho, pela minha própria trajetória de vida, não precisa fazer uma concorrência para ver quem é mais comprometido com os pobres.
No bate-rebate, Dilma afirmou que não se pode confiar só em promessas:
- Com que autoridade vai dobrar o Bolsa Família, se não deram o Bolsa Família?
Mas, segundo Serra, que reforçou o discurso de que o programa foi gestado no governo Fernando Henrique Cardoso, há espaço no orçamento para ampliar o benefício.
- Do ponto de vista de recursos não é nada abusivo, não - disse Serra, citando tese do economista Marcelo Néri, da FGV, que afirmou considerar factível sua proposta.
Em meio à discussão, o governo de São Paulo, administrado pelo PSDB, anunciou ontem que aumentou o valor do benefício pago pelos dois principais programas estaduais de transferência de renda: o Renda Cidadã e o Ação Jovem. Segundo o governo estadual, o valor mensal passou de R$60 para R$80; 800 mil pessoas são atendidas pelos programas.