Título: Sem mágica, real doma a inflação
Autor: Allan, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 22/06/2009, Economia, p. 9

Sucesso do plano lançado em 1º de julho de 1994 só foi possível porque o governo não recorreu a congelamento nem a confiscos, como no passado.

Inflação acima de 1.000% em 1992, com projeção de mais de 6.000% para 1993. Some-se a esse desastre econômico o caos político provocado pelo impeachment do presidente Fernando Collor de Mello e temos todo o cenário do nascimento do Plano Real, o primeiro programa de estabilização econômica que conseguiu frear a escalada dos preços de forma duradoura. No próximo 1° de julho, o Real completará 15 anos e, desde então, a inflação tem se mantido sob controle, com os brasileiros convivendo, durante esses anos todos, com uma mesma moeda.

Essa história era bem diferente em outubro de 1992, quando Itamar Franco substituiu Fernando Collor na Presidência da República. Obstinado por um plano econômico que desse certo, Itamar Franco só conseguiu que um programa desse tipo fosse preparado com seu quarto ministro da Fazenda, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Antes dele, haviam passado pelo ministério Gustavo Krause, Paulo Haddad e Eliseu Resende. Depois de Fernando Henrique, que se afastou para preparar a candidatura à Presidência da República, ainda comandaram a Pasta da Fazenda Rubens Ricupero e Ciro Gomes.

Assim que se tornou ministro, Fernando Henrique tratou de montar uma equipe econômica para enfrentar o desafio do domar a hiperinflação brasileira. Ele chamou para o governo os economistas Edmar Bacha, Pérsio Arida e André Lara Resende. Todos os três já tinham experimentando um retumbante fracasso com o Plano Cruzado do governo José Sarney. O Cruzado foi um dos seis planos de estabilização fracassados que o Brasil experimentou no curto período de oito anos, entre 1986 e 1994. Seu sucesso, com congelamento de preços, foi bastante transitório.

A esse time somaram-se Gustavo Franco, Pedro Malan e Winston Fritsch. Organizado em etapas, o Plano Real foi concebido de forma a evitar os erros dos seus anteriores. Nada de congelamento de preços nem de confiscos de depósitos bancários, uma marca do Plano Collor. E nada de surpresas ou mágicas. A população tinha que saber do plano com antecedência para que ele ganhasse credibilidade.

Operação de guerra

Para preparar o terreno à tão sonhada estabilidade era preciso, no entanto, um mínimo de controle sobre as contas públicas. Daí o Programa de Ação Imediata, lançado ainda em 1993. Depois veio a criação de uma Unidade de Valor, a URV (Unidade Real de Valor). A URV era uma quase moeda, mas não servia de meio de pagamento. Todos os bens e serviços continuavam a ser pagos na moeda da época, cruzeiro real, mas eram indexados à URV. Parece complicado, mas foi essa indexação que permitiu o alinhamento de preços, sem a qual a inflação poderia explodir no período imediatamente posterior ao lançamento do plano.

No mundo virtual da URV, que durou de março a junho de 1994, todos os contratos, salários e preços da economia foram alinhados. A moeda ainda era o cruzeiro real, mas, diariamente, o Banco Central informava o valor da URV. Foi um período de transição, que antecedeu a reforma do padrão monetário. Quando foi lançado o real, em 1º de julho de 1994, a unidade da nova moeda ¿ ou seja R$ 1,00 ¿, lastreada nas reservas internacionais do país, valia o equivalente a US$ 1,00.

Nos três meses que antecederam o lançamento oficial da nova moeda, o Banco Central se viu envolvido em uma verdadeira operação de guerra para produzir e distribuir o dinheiro em todo o país. Foi a maior troca de meio circulante já verificada na história em tão curto tempo. Até 30 de junho de 1994, o BC já tinha distribuído previamente 708 milhões de cédulas e 726 milhões de moedas de real. Até o fim de 1994, estavam em poder do público 2,14 bilhões de cédulas de real e 3,183 bilhões de moedas.

Linha do tempo Jefferson Pinheiro/CB/D.A Press - 21/5/93 19 de maio de 1993

Dida Sampaio/CB/D.A Press - 19/6/09 30 de junho de 1994

2 de outubro de 1992 Itamar Franco toma posse como presidente do Brasil.

2 de outubro de 1992 a 19 de maio de 1993 Passam pelo Ministério da Fazenda os ministros Gustavo Krause, Paulo Haddad e Eliseu Resende.

19 de maio de 1993 Fernando Henrique Cardoso assume o Ministério da Fazenda, empossado por Itamar Franco. Tem início a formação da equipe econômica e a montagem do Plano Real.

14 de junho de 1993 É lançado o Programa de Ação Imediata (PAI) com o objetivo de conseguir um mínimo de equilíbrio nas contas públicas. É considerado a primeira etapa do real.

28 de fevereiro de 1994(1) Criação da URV, Unidade Real de Valor, uma espécie de moeda virtual que tinha como objetivo alinhar os preços da economia. Foi a segunda etapa do plano.

30 de junho de 1994 O presidente Itamar Franco assina a medida provisória do real proposta pelo ministro da Fazenda, embaixador Rubens Ricupero e outros seis ministros de Estado.

1º de julho de 1994 O novo plano econômico está nas ruas, juntamente com a nova moeda, o real.

Para ler mais Editora Record/Divulgação

3.000 dias no bunker

Autor: Guilherme Fiuza Editora: Record R$ 41,50*

O livro sobre o Plano Real do jornalista Guilherme Fiuza se aproxima mais de um romance do que de um texto sobre economia. O próprio autor reconhece que colocou no seu relato muito pouco de mercado, nenhuma fórmula e muita intriga. Marcos Sá Corrêa, na orelha, resume a trajetória do Plano Real: ¿Começa em um governo desmiolado e sem rumo, o do presidente Itamar Franco. E não acabou ainda em outro governo desmiolado e sem rumo, o do presidente Lula¿. Fácil de ler, o livro de Fiuza trata das diferentes etapas do plano de estabilização em estilo cinematográfico, abordando desde a concepção e a implantação até a defesa da nova moeda.

Editora Record/Divulgação

Real História do Real

Autor: Maria Clara R.M. do Prado Editora: Record R$ 51,00*

A jornalista Maria Clara R. M. do Prado foi uma observadora privilegiada da concepção do Plano Real. À época, Maria Clara estava na assessoria do Ministério da Fazenda e assistiu, nos bastidores, a todo o desenrolar do plano que estava sendo montado. Com objetividade, ela trata do nascimento, da implantação e das dificuldades do plano. Valendo-se de anotações, de textos que guardara, das propostas que circulavam e do testemunho dos economistas, autores do plano , o livro é uma contribuição rara para a compreensão dos erros e acertos do real, que transformou radicalmente a economia brasileira nos últimos 15 anos. * Preços indicativos