Título: Apoio fora dos trilhos
Autor: Damé, Luiza; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 14/07/2010, O País, p. 3

Em evento oficial do trem-bala, Lula elogia Dilma; depois, deixa de ir a ato após expediente

Desafiando a legislação eleitoral, o presidente Lula começou sua agenda oficial, ontem, ajudando sua candidata, a ex-ministra Dilma Rousseff. Na sede provisória da Presidência, no CCBB, com a presença de ministros, empresários e autoridades estrangeiras, dedicou a Dilma o lançamento do edital da licitação do Trem de Alta Velocidade, o trem-bala, entre Rio e São Paulo. À noite, no entanto, frustrando as expectativas dos petistas, faltou ao evento de inauguração do comitê central de campanha da candidata, onde chegaria depois do expediente.

O evento eleitoral, que chegou a ser informalmente anunciado como o primeiro da campanha de Dilma com a participação de Lula, foi esvaziado e durou menos de uma hora. Quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou, já tinha acabado. Os organizadores falaram em três mil pessoas. A PM estimou em pouco mais de mil. O evento esvaziado pode ter motivado a desistência de Lula.

De manhã, na reunião de governo no CCBB, Lula disse que o projeto do trem-bala só estava se concretizando graças ao trabalho de Dilma. E arrancou aplausos dos presentes:

- A verdade é a seguinte: não posso deixar de dizer que devemos o sucesso disto tudo que a gente está comemorando aqui a uma mulher. Eu, na verdade, nem poderia falar o nome dela, porque tem um processo eleitoral, mas a história, a gente também não pode esconder, por causa de eleição. A verdade é que a companheira Dilma Rousseff assumiu a responsabilidade de fazer esse TAV.

"Lula não pode ser arroz de festa"

Sua ida à inauguração do comitê não foi confirmada oficialmente, mas era esperada pelos petistas. Muitos, já no local, mostraram surpresa com o anúncio de que o presidente não iria. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), do comando da campanha, justificou:

- A presença de Lula não pode ser banalizada. Lula tem de ser o fato político, não arroz de festa. Por isso não pode vir em inauguração de comitê. Para que isso? Lula tem de fazer campanha própria.

Ao final do evento, à noite, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Luiz Dulci - que despacha no mesmo local que Lula, no CCBB -, disse:

- Estive com Lula e estava certo que ele viria. Fui pego de surpresa.

Na inauguração do comitê, a petista dividiu o palanque com petistas e aliados do PMDB e de outros partidos, entre eles o vice, Michel Temer, o presidente do Senado, José Sarney, e outros como Renan Calheiros (PMDB-AL) e Gim Argelo (PTB-DF).

- Dilma, temos de nos acostumar com a vitória. Não pelo número de pessoas, mas pelo entusiasmo em todos os locais que compareço com você, que devemos nos acostumar com a vitória - discursou Temer.

Ainda na cerimônia do CCBB, pela manhã, Lula - já multado seis vezes pelo Tribunal Superior Eleitoral - reclamou das restrições da Lei Eleitoral aos agentes públicos:

- Daqui a pouco, se o Paulo Bernardo (ministro do Planejamento) for candidato, não vou deixar de falar que ele fez uma coisa boa, que liberou uma Medida Provisória, agora, para resolver o problema do Nordeste. Não podemos negar isso.

Lula também aproveitou o evento para dar uma estocada nos tucanos. Lembrou do acidente, em setembro de 2007, primeiro ano de mandato do presidenciável José Serra, no metrô de São Paulo.

- Nós já tivemos, em São Paulo, buraco de metrô que não se encontrou, e isso recentemente - disse.