Título: Mudando o mundo e o site
Autor: Damasceno, Natanael
Fonte: O Globo, 14/07/2010, O País, p. 4

Página de Dilma mostra luta armada com nova roupagem

SÃO PAULO. Alvo de polêmica nos últimos meses, a participação da hoje presidenciável do PT, Dilma Rousseff, na luta armada contra a ditadura ressurge com nova roupagem em seu material oficial de campanha. Por um lado, um vídeo assinado pelo marqueteiro João Santana associa a petista à luz e à energia, enquanto o regime militar é ilustrado em preto e branco, com imagens de violência policial. De outro lado, um texto explicativo no site informa que o único "crime" de Dilma foi "querer mudar o mundo", como qualquer jovem rebelde.

Essa biografia, que entrou no ar ontem no site oficial da campanha à Presidência, retrata Dilma como uma espécie de defensora da justiça social desde a mais terna infância. Apesar de frequentar um colégio tradicional e o clube da "elite belorizontina", a petista rasgou uma cédula pela metade para doar a um mendigo que bateu em sua porta, "um menino tão magro e de olhos tão tristes". O começo e fim da história da candidata levam o lema: "A menina que sabia dividir".

O texto confirma que a candidata petista fez parte do Polop, Colina e VAR-Palmares. Sem menção à luta armada, explica que todas eram "organizações clandestinas, num tempo em que tudo era proibido e que você podia ser preso apenas por escrever num muro a palavra Liberdade".

"Em 1970, é presa e torturada nos porões da Oban e do Dops, em São Paulo. Como jamais participou de qualquer ação armada, a Justiça Militar a condena apenas por "subversão", com pena de dois anos e um mês de prisão. Seu "crime" foi o mesmo de tantos jovens daqueles anos rebeldes: querer mudar o mundo", explica o site.

No vídeo, de quase 10 minutos, Dilma lembra que muitos foram presos, obrigados a se exilar ou morreram.

- Eu lutei, sim, pela liberdade e pela democracia. Lutei contra a ditadura do seu primeiro ao seu último dia, com os meios e as concepções que eu tinha - diz a presidenciável no vídeo.

O narrador então afirma, com sobriedade: "Dilma foi presa e torturada pela ditadura", enquanto surgem imagens entrecortadas, em preto e branco, de uma tropa de choque avançando nas ruas, sem mostrar o rosto dos policiais, com cavalaria, cassetetes e armas. Em seguida, entra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para, de novo, comparar Dilma ao Nobel da Paz Nelson Mandela.

- Eu lembro que uma vez o Mandela me contou que só foi para o confronto porque não deram outra saída para ele - afirma o presidente Lula.