Título: Marina defende corte de gastos e mais verbas para educação
Autor: Damasceno, Natanael
Fonte: O Globo, 14/07/2010, O País, p. 4
"Não pode, em período eleitoral, simplesmente criar um ministério ou estatal"
A candidata do PV à Presidência, senadora Marina Silva, defendeu ontem para uma plateia de empresários fluminenses a redução dos gastos públicos como forma de controlar a inflação. No encontro, na sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), a candidata elogiou os fundamentos da política econômica dos últimos 16 anos, mas ponderou que a redução dos gastos traria mais investimentos para o país.
- Uma boa política de controle da inflação que não seja apenas pela elevação dos juros teria como consequência a questão do investimento - afirmou, sem especificar em que setores haveria cortes.
Marina ouviu do empresário José Luiz Alquéres, presidente da ACRJ, que a escolha de Guilherme Leal, dono da Natura, para a vaga de vice em sua chapa foi uma "grata referência". Acompanhada do candidato do PV ao governo do Rio, Fernando Gabeira, e do presidente regional do partido, Alfredo Sirkis, Marina falou das diretrizes de seu programa e recebeu dos empresários um documento com ações consideradas prioritárias.
Candidata afirma que país sofre apagão de mão de obra
A candidata, no entanto, discordou ao menos em um ponto na área econômica: as privatizações. Os empresários sugeriram a redução do Estado na economia, mas Marina mostrou achar que este pode não ser o melhor caminho:
- Acredito num Estado necessário, mobilizador, que não seja nem totalmente provedor, nem somente fiscalizador. Temos espaço para uma ação sinérgica entre Estado e iniciativa privada.
Ela evitou fazer comentários específicos sobre a Empresa Brasileira de Seguros, nova estatal que, se sair do papel, será a 12ª criada pelo governo Lula. Mas disse que o que for criado tem que surgir pela necessidade de provimento de serviços.
- O que não pode é num período eleitoral simplesmente criar um ministério ou uma estatal. Não podemos tolher a iniciativa privada. Mas uma boa parceria entre o setor público e o privado não deve inibir o Estado de atender demandas que não podem ser atendidas pela iniciativa privada. Há lugares no Brasil que temos Estado de menos. Acho que a proliferação de mais e mais empresas talvez não seja a solução para os problemas do Brasil. Mas, por outro lado, existem serviços que precisam ser atendidos.
Marina afirmou ainda que a sociedade brasileira já fez o seu "freio de arrumação" em relação às privatizações. E voltou a falar sobre aumento de investimentos em educação:
- Quando um Estado consegue ser eficiente e transparente, cria mecanismos de controle social e transparência para combater a corrupção. Soube, por exemplo, que a gente gasta quase 3% do PIB só com corrupção. Isso já poderia levar o investimento na educação para 8%, já que hoje só investimos 5%.
Ela criticou as notas obtidas pelo Rio no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, avaliado pelo MEC), e afirmou que não se pode desenvolver o país sem que se crie igualdade de oportunidades:
- O Brasil está sofrendo um apagão de mão de obra.
Depois do evento, a candidata seguiu para um compromisso na sede do Comitê Olímpico Brasileiro, na Barra, onde assistiu a uma apresentação do projeto olímpico Rio 2016, conduzida pelo presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman.
Marina assegurou que pretende cumprir os compromissos já firmados pelo governo brasileiro, responsável por uma parcela dos investimentos necessários para a realização dos Jogos.