Título: Ideb: Estado do Rio é o penúltimo do ranking
Autor: Galdo, Rafael
Fonte: O Globo, 06/07/2010, O País, p. 13

Dados do MEC levam em consideração as notas do ensino médio apenas das escolas da rede estadual

O mau desempenho do Rio no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2009, divulgado no último fim de semana pelo Ministério da Educação (MEC), apresenta resultados ainda mais preocupantes se forem levadas em conta apenas as escolas estaduais e desconsideradas as instituições de ensino privadas. No caso do ensino médio, em que a situação é mais grave, o índice geral fluminense, de 3,3, cai para 2,8 na rede pública estadual. Nota menor do que a meta definida para o estado (2,9), e que põe o Rio na penúltima posição entre os estados brasileiros nesse ranking, à frente apenas do Piauí e empatado com Alagoas, Amapá e Rio Grande do Norte.

Para os anos iniciais (do 1º ao 5º) do ensino fundamental, a rede estadual fluminense obteve a 10ª pior nota do país (4,0), contra a média geral no estado, de 4,7. E nos anos finais (do 6º ao 9º), a sétima pior, alcançando índice 3,1, abaixo dos 3,8 se incluídas as escolas particulares.

Sindicalista aponta déficit histórico de professores

Para Sérgio Paulo Filho, coordenador geral do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) do Rio, esse quadro pode ser atribuído principalmente a um déficit histórico de professores. Na rede do estado, ele estima que hoje faltam 10 mil profissionais, sobretudo em disciplinas como matemática, química e física. Baixos salários, afirma, são um dos maiores obstáculos para preencher essas vagas.

- A remuneração inicial de um professor no estado gira em torno de R$600 a R$700. Qualquer município tem salários mais atraentes. Na ponta desse processo, o rendimento escolar dos alunos, desestimulados, acaba prejudicado. Por isso, não surpreende o resultado do Ideb - diz o sindicalista, afirmando que o déficit é maior na Baixada Fluminense e na Zona Oeste do Rio, e no ensino médio.

A secretária estadual de Educação, Tereza Porto, diz que os números do Ideb já eram esperados, apesar de avanços, segundo ela, dos últimos anos. Para as notas mais baixas do que as da maioria dos estados, Tereza culpa a herança deixada por governos anteriores, principalmente na cidade do Rio, em que ela identifica a situação mais grave.

Secretária nega que baixo salário seja problema

A secretária aponta dois fatores que levaram a essa situação: a aprovação continuada nas escolas de ensino fundamental num passado recente e a carência de professores ao longo dos últimos 15 anos.

- Nossos alunos de ensino médio vêm de um passado de má formação. Arrumamos a casa e temos feito melhorias. Mas as consequências só vão aparecer com o tempo. Este ano, sabíamos que ficaríamos estacionados. Esperamos que em 2014 os resultados dessas ações sejam visíveis - afirma a secretária, que tem um orçamento de cerca de R$3 bilhões para a educação.

Entre as iniciativas para modificar esse panorama, Tereza cita investimentos na capacitação e na valorização do corpo docente, construção de escolas e a contratação de 30 mil novos professores. Ela diz, no entanto, que persistem deficiências em disciplinas como filosofia, sociologia, física e química. Mas não admite que a questão salarial seja o motivo do déficit. Segundo a secretária, o salário inicial na rede é de R$754 para uma carga horária de 16 horas, e o maior problema seria a falta de profissionais nessas áreas.

Para a educadora Sonia Wanderley, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no caso do ensino médio, além de problemas como os baixos salários, pesa o próprio caráter dessa faixa de ensino no país, muito voltada para preparar os alunos para as provas de ingresso na universidade, às vezes distante da realidade dos jovens e de suas necessidades.

- Para mudar, seria preciso repensar também a formação dos professores para essa faixa de ensino - diz.

Opinião semelhante é a do presidente do Conselho Estadual de Educação do Rio, Paulo Alcântara Gomes, que defende uma reforma do ensino médio para manter a motivação dos alunos e abrir perspectivas de inserção dos estudantes no mercado de trabalho após a sua conclusão.