Título: Escorregadas sobre educação e policiais
Autor: Jungblut, Cristiane; Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 09/07/2010, O País, p. 4

Petista mostra desconhecimento sobre programas ao criticá-los

SÃO PAULO e JUNDIAÍ (SP). Em campanha no interior de São Paulo, a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, criou nova polêmica com o PSDB, desta vez em relação à educação. Ela criticou ontem o programa do governo do estado - criado por seu adversário na disputa pelo Planalto, o tucano José Serra - que prevê uma dupla de professores em salas de aula para reforçar o processo de alfabetização das crianças. Em tom irônico, disse que a iniciativa "coloca dois e divide o salário", mostrando, porém, não conhecer o programa.

- Ninguém vai solucionar o problema da educação dividindo. Soma dois e divide o salário, é isso? Eu acho que pega um e melhora cada um dos professores deste país. Se não, você bota um professor central e um assessor, é isso? Temos de fazer algo muito simples: reconhecer que nenhuma profissão vai ser bem exercida, nem a de vocês jornalistas, se desandar a sucatear a profissão

Em reação às declarações de Dilma, o secretário de Educação de São Paulo, Paulo Renato de Souza - que foi ministro da Educação no governo Fernando Henrique - desafiou a petista a provar que a educação no estado não é de boa qualidade, e afirmou que a estratégia dos dois professores é bem sucedida:

- Desafio essa senhora a olhar os dados, antes de se pronunciar sobre o assunto. Eu a desafio a provar que a educação de São Paulo não vai bem - disse Paulo Renato.

O projeto de dois professores, segundo ele, é aplicado na 1ª série do ensino fundamental. Um estagiário, estudante de pedagogia, auxilia o professor-regente da classe e recebe uma bolsa de R$500 mensais. Esse valor, adiantou o secretário, deve ser reajustado em breve para cerca de R$700. A bolsa, explicou, é paga ao estudante por meio da sua faculdade.

Paulo Renato afirmou que o governo de São Paulo prova que trabalha para a melhoria da educação com ações básicas: o pagamento de um piso de R$2.000 (o dobro do piso nacional do governo Lula) e a adoção do programa de valorização do professor promovido, que permite a ele triplicar seu salário, dependendo do seu esforço. Disse ainda que o índice de crianças com nível satisfatório de complementação de leitura na 2ª série subiu de 88% (em 2002) para 90% (2007) e chegou a 92% em 2009.

Dilma também criticou a gestão de Serra na segurança pública, setor no qual o tucano enfrentou uma greve no estado:

- Seria de todo oportuno que tivesse um patamar mínimo (de remuneração). Não se pode deixar que um estado rico como este pague o que paga para um delegado - disse Dilma, sendo logo alertada por seu vice, Michel Temer (PMDB), e pelo deputado Arlindo Chinaglia (PT) que o tema fora tratado em uma emenda constitucional aprovada em primeiro turno no Congresso e à qual o governo se opusera.

Dilma deu entrevista coletiva antes de um almoço com 500 políticos, sindicalistas e outros líderes da região de Bauru. Ao discursar, dirigiu a palavra aos "jornalistas presentes" - que, na realidade, foram impedidos de acompanhar diretamente o evento - para afirmar seu compromisso com a liberdade de imprensa:

- Eu sou inteiramente comprometida com a liberdade de opinião e expressão no país e com a liberdade de imprensa. Muito se diz sobre essa questão, e acho que talvez nós tenhamos sido o governo que mais e melhor conviveu com jornalistas, no sentido de que jamais telefonamos para uma redação para nos queixarmos de nenhum jornalista. Não temos essa prática. Nunca tivemos - disse Dilma.

Sem citar nomes, deixou no ar uma insinuação:

- Não sei se todos neste país têm a mesma prática. Nós respeitamos as atividades do jornalista.