Título: Pré-sal vira trunfo político
Autor: Dalvi, Bruno; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 16/07/2010, Economia, p. 27

Mas royalties e vazamento atrapalham estratégia ufanista

Desde o dia 8 de novembro de 2007, quando o grande potencial dos campos do pré-sal foi anunciado, o governo passou a tratar as novas descobertas como um trunfo político, que deveria marcar a atual administração. Nos anos seguintes, o presidente Lula apostou na costura do novo regime de exploração do petróleo, com claros tons nacionalistas, pelo qual o Estado, via Petrobras, passa a ter controle total sobre a produção. Outra aposta foi sobre a paternidade do modelo que cria o Fundo Social e garante às futuras gerações recursos para desenvolver a educação, a ciência, a cultura e combater a fome.

Durante um ano e meio, a portas fechadas, ministros e técnicos do governo se reuniram para acertar os detalhes do novo marco regulatório do setor. A coordenação direta foi da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, hoje candidata do PT à presidência. O projeto mais importante estabelece o regime de partilha da produção, outro cria a estatal Pré-Sal S.A., o terceiro determina as regras do Fundo Social e o quarto cede até cinco bilhões de barris de petróleo para a capitalização da Petrobras.

Ao enviar os projetos para o Congresso, o pré-sal passou a ser anunciado por Lula como uma dádiva, que asseguraria um futuro melhor para todos os brasileiros. Analistas políticos lembram que assumir o pré-sal politicamente é uma estratégica esperada. Para o cientista político Murillo de Aragão, da Arko Advice, isso ocorreria em qualquer governo:

- É natural que o governo Lula queira usá-lo politicamente, até pela grande importância que essas reservas representam para o país.

O capital político que o governo gostaria de amealhar com o pré-sal começou a ser desfeito com a polêmica em torno da nova distribuição dos royalties. Se for aprovada, desagrada eleitores do Rio e do Espírito Santo e se for rejeitada frustra os demais estados e municípios.

- Por essa polêmica, politicamente, o governo ainda não colheu frutos com o pré-sal - avalia o cientista político Ricardo Caldas.

A repercussão do vazamento no Golfo do México pode trazer ainda mais danos para a estratégia ufanista. O risco, segundo Caldas, é que ganhe terreno o tom ambiental, que favorece a candidatura de Marina Silva.

- A Dilma e o governo terão de usar o pré-sal com mais moderação em seus discursos - concluiu Caldas.