Título: Em defesa de Sarney
Autor: Pereira, Daniel
Fonte: Correio Braziliense, 25/06/2009, Política, p. 5

Lula orienta ministros a blindarem o parlamentar. Quer manter o PMDB próximo de Dilma e evitar retaliações

Planalto aposta no apoio de Sarney para dar fôlego à candidatura Dilma

Depois de defender publicamente o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou ontem a ministros que reforcem a operação de blindagem ao peemedebista, fustigado pela crise dos atos secretos. A determinação foi passada durante a reunião da chamada coordenação política, no Centro Cultural Banco do Brasil. Pelo menos três motivos justificam a decisão. O primeiro deles é o fato de Sarney ser considerado aliado fundamental nos esforços para garantir o apoio do PMDB à candidatura presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

O segundo é o temor do governo de que, caso o senador deixe o comando do Congresso, seja aberta uma nova guerra entre petistas e peemedebistas pelo posto, o que pode dificultar votações em plenário e o projeto de unir as duas legendas em 2010. ¿A pior coisa seria entrarmos de novo naquela disputa ferrenha do início do ano¿, declarou um auxiliar de Lula, referindo-se ao embate entre Sarney e o petista Tião Viana (PT-AC) pela presidência do Senado. Com o apoio ao peemedebista, o governo também tenta impedir que o PMDB, detentor da maior bancada da Casa, retalie o Planalto. Por exemplo, tirando do papel a CPI da Petrobras. ¿Parte dessa CPI foi motivada pela tentativa de tirar a crise administrativa do foco do noticiário¿, afirmou um ministro.

Guiados pelo líder do PMDB Renan Calheiros (AL), governistas impediram até agora o início dos trabalhos da comissão que investigará a estatal. Ontem à noite, no entanto, foi lido o pedido de instalação da CPI do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit). O autor do requerimento é o senador Mário Couto (PSDB-PA), mas a iniciativa tem o aval de correligionários de Sarney. Ontem, Lula ouviu relatos sobre a crise administrativa no Senado. Em seguida, ele, Dilma e ministros ¿ como Franklin Martins (Comunicação Social), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência) e José Múcio Monteiro (Relações Institucionais) ¿ desenharam a estratégia a ser adotada.

Uma das orientações é entoar o discurso de que o escândalo não é do peemedebista, mas da Casa. ¿O Senado vive um momento difícil, mas os problemas não foram gerados pelo Sarney. São anteriores a eles. O presidente Lula foi muito leal ao senador. Seguiremos o mesmo caminho¿, disse um ministro. ¿A crise não é de hoje, não é de uma pessoa¿, reforçou outro ministro. A ideia é oferecer a Sarney a ajuda necessária para virar a página e implantar uma agenda positiva. Além, é claro, de resistir à qualquer pressão para que o parlamentar renuncie à presidência. ¿Afastamento não passa pela nossa cabeça¿, afirmou um ministro.

Sindicância abortada O Prodasen assumiu a responsabilidade por duas contas bancárias na Caixa Econômica Federal que contam com R$ 3,7 bilhões e não são vinculadas à conta única do Senado. Com isso, deve naufragar a comissão de sindicância que seria aberta para investigar a origem desse dinheiro. Segundo o Prodasen, o recurso é proveniente de um fundo criado em 1985. Técnicos da consultoria de Orçamento do Senado garantiram que as duas contas estão registradas no Siafi e disponíveis para consulta pública.