Título: Falta estrutura para combater a violência
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 11/07/2010, O País, p. 16

Dos 5.565 municípios brasileiros, apenas 30 mantêm abrigos para as vítimas de agressões

SÃO PAULO. Nas 50 cidades que têm as maiores taxas de homicídios de mulheres, segundo o Mapa da Violência, só seis cidades têm casas de abrigo para mulheres vítimas de violência e 11 possuem delegacia da mulher. É o que mostra um cruzamento de dados feito pelo GLOBO entre os números do mapa e dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A falta de equipamentos públicos é generalizada. Ainda de acordo com um estudo do IBGE, Roraima, Amapá e Distrito Federal não têm abrigos municipais para mulheres e dos 5.565 municípios brasileiros apenas 30 oferecem esse tipo de assistência, a maioria no Sudeste (51). Já as delegacias da mulher funcionam em 397 cidades e os Juizados de Violência Doméstica e Familiar em 274 municípios.

- Mais que os equipamentos, é necessário o treinamento de profissionais, delegados, PMs que fazem o primeiro atendimento às vítimas - afirma a pesquisadora Eva Blay, do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero (Nemge), da USP- É fundamental que os juízes sejam alertados para as denúncias das mulheres, para agilizarem as ações.

Para Eva, uma das principais estudiosas sobre a violência contra as mulheres no país, é preciso implantar juizados especializados, além de a criação de mais abrigos:

- A mulher pode não querer ir para um abrigo. Pode querer ficar na casa dela, o que é seu direito. Quem tem de sair é o agressor. Por isso, a Justiça deve ser rápida e lhe dar segurança.

Centros de atendimento aumentam de 13 para 167

Mas a situação já foi pior. Segundo a ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, de 2003 a 2010, o número de centros de referência para atendimento de mulheres cresceu de 13 para 167. O mais importante, porém, segundo ela, é que o país trabalhe "em rede". Para isso, foi criado um pacto nacional de enfrentamento da violência, com a adesão da maioria dos estados. As verbas são distribuídas para criação de delegacias da mulher e de centros de referência em atendimento às vítimas, além de campanhas educativas.

- A violência não ocorre de uma hora para outra. É preciso prestar atenção aos sinais. Não podemos ficar revoltados apenas quando vemos o que fizeram com Eliza Samudio. Precisamos nos indignar quando alguém, como o goleiro Bruno, vai à TV e pergunta: "quem nunca saiu na mão com a mulher?". Não podemos apenas achar que aquilo foi uma "abobrinha" dita por ele - diz a ministra.