Título: Hegemonia inédita na História recente
Autor: Vasconcellos, Fábio; Remígio, Marcelo
Fonte: O Globo, 11/07/2010, O País, p. 12

Especialistas traçam paralelo com o chaguismo; até PT foi neutralizado

A hegemonia política do PMDB no Rio não tem precedentes na História recente do estado. Mas as estratégias que levaram o governador Sérgio Cabral a expandir o poder do seu partido lembram, segundo especialistas, a forma de atuação do ex-governador Chagas Freitas. Com uma máquina administrativa azeitada e controle sobre o Legislativo estadual, Chagas manteve o apoio da maioria dos prefeitos e deputados quando governou o antigo Estado da Guanabara (1971-1975) e depois o Estado do Rio, entre 1979 e 1983.

Historiadora da Fundação Getulio Vargas (FGV), Marly Motta ressalta que Chagas governou num período de exceção, onde havia outros instrumentos de pressão, mas não abriu mão de trabalhar para conquistar politicamente os municípios a partir da máquina estadual, e isso passava necessariamente pelo controle da Alerj. Segundo ela, todo os governadores, já no período democrático, conviveram com essa estrutura de poder, mas nunca conseguiram controla-lá como a atual gestão.

- Um governador que presidiu por tanto tempo a Assembleia Legislativa, como o Sérgio Cabral, tem mais facilidade de lidar com esse estilo de fazer política. Ao contrário de outros governadores que apenas conviveram com essas estruturas, Cabral soube se relacionar com os deputados e os prefeitos - diz Marly.

O cientista político da UFRJ Paulo Baia faz uma análise semelhante. Para ele, Cabral conseguiu reproduzir as bases institucionais e políticas que ajudaram Chagas Freitas a conquistar maiorias.

- Esse estilo de atuação pressupõe um questão institucional e outra política. Primeiro, ao manter a máquina operando e dando respostas rápidas às demandas de vários atores e, por outro lado, buscando manter relações políticas com setores da esquerda, da direita, grupos empresariais e movimentos sociais - ressalta Baia.

Para o cientista político, a recente aproximação do PMDB com o PT permitiu ampliar a hegemonia dos peemedebistas nestas eleições. Isso porque, segundo Baia, conseguiu neutralizar a legenda.

- Essa intensificação da relação com o PT permitiu não apenas neutralizar forças estaduais do partido que pudessem se contrapor ao governador como também ajudou a melhorar o diálogo com Brasília - observa Baia.