Título: Em terras fluminenses, o PMDB reina
Autor: Vasconcellos, Fábio; Remígio, Marcelo
Fonte: O Globo, 11/07/2010, O País, p. 12

Peemedebista, Cabral deverá ter apoio de 91 dos 92 prefeitos do estado em sua campanha pela reeleição

Uma conhecida anedota do mundo político diz que o PMDB é um partido que estará no governo, seja quem for o chefe do Executivo. Demorou algum tempo para que a realidade no Rio desse um novo sentido à frase. Trinta e cinco anos após a fusão com o Estado da Guanabara, o PMDB é hoje o poder em torno do qual orbitam as forças políticas nestas eleições. A hegemonia da legenda não é à toa. O PMDB controla o caixa do Palácio Guanabara e da prefeitura da capital - onde estão 40% dos eleitores -, administra outros 34 municípios - 38% do total -, a Assembleia Legislativa (Alerj) e a Câmara de Vereadores do Rio.

A máquina peemedebista seduziu outros partidos: 38 prefeitos aliados farão campanha para os peemedebistas; outros 19 ligados à oposição, e que integram a aliança que apoia a candidatura de Fernando Gabeira (PV), também admitem apoio formal ou informal à reeleição do governador Sérgio Cabral. O resultado é que há 91 prefeitos dispostos a estar no poder ao lado do PMDB. A dúvida, por enquanto, é apenas o prefeito de Campos, Nelson Nahim (PR), irmão do ex-governador Anthony Garotinho (PR). Ele já foi procurado por peemedebistas dispostos a convencê-lo a mudar de posição. Nahim, que andou brigado com o irmão, figura na lista de amigos de Cabral.

Principal articulador do governo no interior, o vice-governador e candidato à reeleição, Luiz Fernando Pezão (PMDB), justifica a hegemonia no interior como uma forma de "retribuição" dos prefeitos às obras realizadas pelo governo. Nos últimos três anos e meio, o governo repassou cerca de R$250 milhões para obras, e abriu o caminho para o apoio dos prefeitos. O líder do governo na Alerj, deputado Paulo Melo (PMDB), vai além:

- Repassamos verbas, fizemos obras e ainda pagamos dívidas deixadas pelos dois governos da família Garotinho.

Eleição de Paes ampliou domínio

O presidente regional do PMDB, deputado Jorge Picciani, aponta, além das obras, outros motivos para a força do partido nestas eleições: a vitória na capital em 2008:

- Com a eleição do Eduardo Paes, tivemos a oportunidade de não só compor com partidos com o PCdoB e o PDT, como também de ampliar a nossa relação com o PT. Isso ajudou a consolidar o nosso arco de alianças - diz Picciani.

Gabeira, candidato pela coligação PV-PSDB-DEM-PPS, não deverá esbarrar em campanhas contra seu nome por parte dos prefeitos da sua aliança. No entanto, não deixará de sentir o gosto da traição. O líder do DEM na Assembleia, deputado Rodrigo Dantas, diz que os cinco prefeitos da legenda se renderam à injeção de verbas e obras, intensificada desde novembro. O prefeito de Resende, José Rechuam (DEM), confirma:

- A campanha eleitoral não terá três meses. Ela começou há um ano e meio, com os investimentos do governo do estado - observa Rechuam, que apoiará Sérgio Cabral.

Os tucanos também admitem que a fidelidade passará longe do ninho. O próprio presidente da executiva regional do PSDB, José Camilo Zito, prefeito de Caxias, não pedirá votos para Gabeira:

- Meu compromisso é com o candidato do PSDB à Presidência, José Serra. Respeito o Gabeira, mas não farei campanha para ele. Não fecharei as portas de Caxias para os governos federal e estadual. Se tem algo que também não farei nestas eleições é dizer que o governo de Sérgio Cabral não fez nada por minha cidade, porque ele fez.

Integrantes do PSDB confirmam que o apoio de Zito a Cabral será pesado. Embora o prefeito não suba no palanque do governador, eles garantem que Zito porá toda a sua estrutura eleitoral a favor do candidato do PMDB. Membro da executiva nacional do PSDB, o deputado federal Otávio Leite diz que o comportamento dos prefeitos reflete o dos governadores:

- O governo federal alicia governadores com verbas, obras e programas e eles fazem o mesmo com os prefeitos. É o reflexo de uma política pequena, antiga - critica.

Sem medo de críticas ou reações de seu partido, o PR, o prefeito Sandro Matos, de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, engrossa o coro dos aliados do PMDB e não se compromete a pedir votos para o candidato a governador Fernando Peregrino. Sandro diz que, desde a entrada de Garotinho no partido, afastou-se das ações partidárias e deixou claro seu voto de confiança em Cabral:

- Não estou traindo o partido e muito menos Garotinho. Assim que ele apresentou sua candidatura, antes de se tornar inelegível, conversei com ele e disse que não poderia abrir mão da ajuda que o estado deu a Meriti.