Título: Custo baixo e tarifa cara
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 18/07/2010, Economia, p. 29

Internet faz despencar despesa de bancos, mas serviços sobem até 65%

O ARQUITETO Celio Biavati Filho agendou pagar carro novo pela internet em 24 meses

Ainternet já é o principal caminho para as pessoas fazerem suas operações bancárias, mas seus benefícios nem sempre são repassados aos clientes, quando o assunto é a tarifa. É o que afirmam os órgãos de defesa do consumidor. Segundo essas instituições, apesar de o custo de uma transação ser até cem vezes mais caro em uma agência do que na rede mundial, os bancos elevaram os preços de parte de seus serviços. Entre abril de 2008 e junho de 2010, chegou-se a verificar reajustes de até 65,8% nos pacotes bancários, de acordo com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Outro fator importante é o desconhecimento do próprio usuário sobre os benefícios da internet. Isso vale para o dia a dia: como evitar filas nas agências e fazer economia no pagamento de tarifas. Diversas não podem, por lei, ser cobradas se realizadas pela rede e pouca gente sabe disso.

¿ O consumidor desconhece boa parte dos serviços disponíveis para não pagar tarifas. Mas os bancos também não repassam os ganhos com a internet, porque ainda vemos aumentos em algumas tarifas ¿ disse a economista do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) Ione Amorim.

Segundo levantamento da entidade, de abril de 2008 a junho passado, houve elevação de até 65,8% nos preços de alguns pacotes bancários exclusivos. Ou seja, aqueles com perfil desenhado pela instituição para seus clientes. Em média, o reajuste foi de 16,9% no período.

Já nos pacotes padronizados, de oferta obrigatória imposta pela resolução 3.518 de 2008, dos dez bancos analisados, apenas um havia subido preços. Os demais fizeram reduções que chegaram a quase 61%. Na média, os preços caíram cerca de 18% nesta modalidade.

DOC custa quase o dobro na agência

Segundo Ione Amorim, 60% da população bancária estão vinculados a um pacote e, caso esse cliente use frequentemente a internet, ele poderia optar por tarifas avulsas. Isso porque a mesma resolução proíbe a cobrança de tarifas em alguns serviços feitos por meio da web, como consultas de saldos, pagamentos imediatos ou programados.

¿ Há pontos positivos (com a internet), como redução de filas, de tempo, de transporte. E, quando o usuário segue as instruções dos bancos, a internet é segura ¿ acrescentou ela.

Pesquisa recente do Banco Central (BC) mostrou que a internet respondeu por 30,6% das operações bancárias feitas no país no ano passado, superando os caixas eletrônicos. As instituições financeiras não gostam de falar de custos de internet e seus repasses para o consumidor. Mas argumentam que as tarifas cobradas na rede são bem mais em conta do que as de outros meios.

O gerente-executivo de Canais do Santander, Roberto Naddeo, diz que um DOC realizado pela internet custa R$7,90 e, na agência, o mesmo serviço custa quase o dobro: R$13,40.

¿ A internet é importante para nós, porque estreita a relação com o cliente ¿ afirmou.

Naddeo acrescentou que, hoje, um quarto dos nove milhões de clientes do Santander usa a rede para fazer suas operações.

O consultor para área de tecnologia da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) Luís Marques de Azevedo disse que as operações realizadas na boca do caixa são de dez a cem vezes mais caras do que via internet. Com o inexorável aumento do uso da rede, os bancos terão redução nas suas receitas com tarifas, ainda mais com a competição maior, previu.

Isso será compensado, porque os menores custos e preços acabam levando os bancos a buscarem mais clientes, sobretudo os de renda menor, que elevam os depósitos. Esses recursos são usados pelos bancos para fazer empréstimos, gerando outros tipos de receitas. Entre 2000 e 2009, cresceu 110% o volume de contas correntes no país, a 133,6 milhões.

¿ O brasileiro não tem medo de novidades. Hoje, o uso de cartões é maior do que o de cheque ¿ lembrou Azevedo.

O arquiteto Celio Biavati Filho é um exemplo. Há anos faz todas as operações bancárias pela internet e diz que nunca houve problema, como clonagem de cartão ou senha. Ele argumentou que a facilidade é tão grande que já agendou o pagamento das 24 prestações do seu carro novo.

¿ Não preciso me preocupar com isso até 2011 ¿ afirmou.

Ação contra fraude identifica computador

O uso de mais tecnologia para as operações bancárias exige mais investimentos dos bancos, que chegam a R$20 bilhões ao ano. Um dos focos é a segurança e, para isso, há o desenvolvimento de novas ferramentas de proteção, como as senhas, tokens (dispositivos eletrônicos geradores de senhas) e telas flutuantes.

O diretor-executivo do Bradesco, Candido Leonelli, informou que o banco passará a cadastrar os computadores dos clientes para evitar fraudes. Se alguém tentar fazer operação em uma máquina que não esteja na lista, o banco saberá e poderá verificar se é fraude ou não.

¿ O valor das operações na nossa internet deve chegar a R$2,5 trilhões este ano. É preciso ter segurança.