Título: Exploração mais complexa elevou riscos de desastre
Autor: Krauss, Clifford ; Lyall, Sarah
Fonte: O Globo, 18/07/2010, Economia, p. 34

Gestão agressiva desmentiu promessa de priorizar segurança

NOVA YORK. Quando Tony Hayward se tornou o diretor-executivo da BP, em maio de 2007, ele prometeu levar a companhia de volta ao básico. Geólogo loquaz e funcionário de longa data da companhia, Hayward dispensou o serviço de limusine, usado por seu antecessor, John Browne, e acabou com serviços considerados regalias.

¿ A BP faz o seu dinheiro através de alguém, em algum lugar, diariamente usando botas, macacão e óculos, que sai e gira válvulas ¿ disse Hayward numa palestra no ano passado. ¿ E nós meio que perdemos esse vínculo.

Hayward também prometeu corrigir os problemas de segurança que contribuíram para a queda de seu antecessor. Embora a companhia continuasse fazendo as ¿coisas difíceis¿, disse ele, a segurança seria a prioridade número um.

No setor de segurança individual, Hayward expandiu as iniciativas de Browne. Hoje, há avisos nos escritórios da BP exortando os trabalhadores a seguirem as marcações nos corredores dos estacionamentos e a segurarem o corrimão ao subir as escadas. Os empregados que usam carros da empresa são obrigados a fazer cursos de direção defensiva. Em um memorando aos empregados, o diretor disse que, antes do acidente com a plataforma do Golfo do México, a segurança da companhia estava melhorando.

¿Este acidente foi uma terrível exceção em relação àquela tendência e devemos aprender a lição¿, escreveu ele. ¿Mas, ao mesmo tempo, não invalida o duro esforço que vocês deram para melhorar nossos padrões de segurança em todo o mundo. A segurança é a nossa principal prioridade. E continuará sendo.¿

Para autoridades dos EUA, BP adota ações de risco

Mas, para autoridades americanas, apesar dessa retórica, a empresa continua adotando um comportamento de risco.

¿ A segurança é medida geralmente em termos de acidentes de trabalhadores e quantos dias ficaram afastados do trabalho. E isso é irrelevante quando se avalia a probabilidade de uma instalação, como uma refinaria de petróleo, explodir ¿ diz David Michaels, secretário-assistente de segurança ocupacional.

A BP insiste em afirmar que aprendeu a equilibrar risco e segurança, eficiência e lucro. No entanto, as evidências sugerem poucas mudanças. A Administração de Saúde e Segurança Ocupacional dos EUA (OSHA, na sigla em inglês) já multou a companhia em mais de US$90 milhões por centenas de violações das normas de segurança. Um dos técnicos da comissão que investiga o acidente no Golfo resumiu: ¿A BP cortou aqui e ali para economizar milhões de dólares. Agora, todo o Golfo está pagando o preço¿. (Sarah Lyall, Clifford Krauss e Jad Mouawad, do ¿New York Times¿)