Título: O braço direito de Marina na campanha
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 18/07/2010, O País, p. 16

Filho de construtor, Capobianco preferiu se dedicar à causa ambiental a trabalhar na empresa da família

JOÃO PAULO Capobianco, mais conhecido entre os amigos como Capô

BRASÍLIA. Neto de cafeicultor e filho de empreiteiro, João Paulo Capobianco é a ovelha negra dos sete irmãos mauricinhos. Hoje braço direito da presidenciável Marina Silva, Capobianco recusou o caminho natural que o esperava na construtora da família, a Construcap, para se dedicar ao que era na época uma esquisitice: a causa ambiental.

Seu batismo de fogo foi aos 14 anos, quando teve seu primeiro enfrentamento na área. Seus primos queriam derrubar os quase 2.000 hectares de mata nativa da fazenda do avô, no sul de Minas, para explorar a madeira de lei que ali existia. Ele se rebelou contra o desmatamento e sofreu a primeira derrota. Anos depois, já formado em biologia e trabalhando como fotógrafo profissional, encampou mais uma investida, desta vez pública: um movimento para barrar a construção da usina atômica de Jureia (SP). Dessa vez, ele saiu vitorioso. Além de demolir o projeto da usina, a iniciativa gerou a criação da Estação Ecológica da Jureia.

A visibilidade do movimento fez com que um grupo de jovens da elite paulistana convidasse Capobianco para fundar com eles a ONG SOS Mata Atlântica. Após essa experiência, ele ajudou a criar o Instituto Socioambiental (ISA), voltado para a proteção de terras indígenas na Amazônia.

Sua passagem bem-sucedida pelo mundo das ONGs despertou o interesse de Marina, que, embora tivesse convivido com o ongueiro poucas vezes, o convidou, logo que assumiu o Ministério do Meio Ambiente, em 2003, a ocupar uma das secretarias mais importantes da pasta: a de Biodiversidade e Florestas.

¿Campeão na argumentação¿

Capobianco é do tipo polêmico. Quem conviveu de perto diz que gosta de embates e não poupa quem estiver embarreirando o caminho de seus objetivos. No ministério, passou a dominar a cena ¿ para desconforto de muitos colegas dentro da repartição ¿ e, em 2006, desbancou o então secretário-executivo Cláudio Langoni para ocupar, em seu lugar, a vaga.

¿ Minha identidade com a Marina foi instantânea. Logo no início da gestão dela, ambos entendemos que o compromisso de reduzir o desmatamento tinha que ser prioridade. Quando isso foi apresentado à equipe, houve discordância. Achavam que era uma loucura, que o desmatamento era coisa histórica e que o ministério ia sair desmoralizado ¿ conta.

No ministério, Capobianco causou controvérsias. Fora dele, aparecia muitas vezes ligado a conflitos com a área chamada desenvolvimentista do governo. Com mentalidade de ativista e nenhuma experiência política, a avaliação de ex-colegas é que lhe faltava traquejo com outros setores da máquina pública, o que teria contribuído para o isolamento de Marina em Brasília.

¿ Ele é um bom ecologista e foi muito correto comigo durante a transição. Mas me parece que ele tem alguma dificuldade de interação com a área política e econômica ¿ diz Carlos Minc, que substituiu Marina no Ministério do Meio Ambiente.

¿ É um sujeito competente e sério. Um pouco autoritário, na minha perspectiva ¿ diz Rodrigo Lara Mesquita, ex-presidente da SOS Mata Atlântica.

Para o diretor de Mobilização da ONG, Mário Mantovani, Capô, como é conhecido, é ¿campeão na argumentação¿. Irmão do coordenador da campanha do PV, Eduardo Ribeiro Capobianco concorda. Lembra que os dois travavam debates intermináveis quando Eduardo estava envolvido num programa de açúcar e álcool. Capô o encheu de livros e documentos sobre o impacto de grandes empreendimentos ao ambiente e acabou influenciando a posição do empresário.

¿ O João ficava me amolando com uma série de documentos e foi muito útil. Aprendi bastante com ele. Esse tema ambiental acaba impregnando. E se tornou mais um valor da nossa família ¿ diz o empresário, garantindo que, tanto na empresa quanto nas diversas fazendas dos Capobianco, a legislação ambiental é cumprida à risca.

Filiado ao PV desde 1996, o chefe da campanha presidencial do partido nunca concorreu a um cargo eletivo. Mas teve papel decisivo nas negociações de Marina em sua saída do PT. Hoje, é o general da campanha da verde à Presidência, posto que ocupa sozinho, após desbancar o plano original, que seria a distribuição da responsabilidade entre ele, o vereador carioca Alfredo Sirkis e o ex-deputado petista Luciano Zica.

Quem participou do processo diz que não havia espaço para tantos egos.

¿ O casamento de Marina e Capobianco é um caso que deu certo. Ele foi um complemento importante a ela, agregando o conhecimento técnico e científico que ela não tinha e somando à vivência de Marina na Amazônia sua experiência com outros biomas brasileiros ¿ diz Adriana Ramos, ambientalista que trabalhou com ele no ISA.