Título: Falta muito, mas já melhorou
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 23/07/2010, O País, p. 4

O ministro da Educação, Fernando Haddad, diz que o Brasil percorreu menos da metade do caminho rumo a uma educação de qualidade.

Segundo ele, será difícil alcançar a meta prevista para 2021, pois ainda falta fazer o dobro do esforço feito até agora.

O GLOBO: Por que o Brasil demorará tanto tempo para alcançar os países da OCDE? FERNANDO HADDAD: Porque esses países priorizaram a educação lá atrás. O Brasil começou a priorizar a educação agora. Em 1994, não faz tanto tempo assim, o Brasil aprovou emenda constitucional retirando recursos da educação. Dez anos (de prazo para alcançar a meta), você acha muito? São mais dois governos. Há estados que são governados pela mesma força política há 20 anos e estão exatamente na mesma situação de 20 anos atrás.

Dois governos é tempo razoável para mudarmos a situação da educação? HADDAD: Para atingir o patamar de excelência dos Estados Unidos, da Itália, da Espanha, considero uma meta ousada. A Irlanda levou 40 anos para atingir o patamar.

É possível antecipar o cumprimento da meta? HADDAD: Na verdade, se mantivermos o ritmo atual, essas metas serão antecipadas.

Mas duvido que isso seja possível.

Por quê? HADDAD: O ritmo está bem forte. O Ideb subiu um ponto em quatro anos. Subir um ponto significa que os alunos do 5º ano do Por quê? HADDAD: O ritmo está bem forte. O Ideb subiu um ponto em quatro anos. Subir um ponto significa que os alunos do 7º ano tinham em 2005. É como se o brasileiro tivesse saltado dois anos em escolaridade.

Com a nota 4,6 nós ainda estamos reprovados? HADDAD: Quando você fala de uma escala de 0 a 10, você passa a falsa impressão de que faltam 5,4 pontos para a gente ter uma educação de qualidade. Na verdade nós aumentamos 0,8 e falta 1,4. Então, nós cobrimos quase 40% do percurso em quatro anos.

Mas ainda não chegamos a ter uma educação de qualidade, concorda? HADDAD: Falta cobrir 60% do percurso. Isso significa que nós vamos estar numa situação de países que têm duas ou três vezes a renda per capita do brasileiro.

É difícil reconhecer que o Brasil ainda não tem um ensino de alto nível? HADDAD: Não é isso. Se a qualidade estivesse caindo, o sinal que você tinha que dar para o sistema era de alerta.

Nós, felizmente, tivemos uma inflexão dessa curva, que era decrescente. Desde 2005 é crescente. Então o sinal que você tem que passar é que temos um caminho pela frente.

Mas temos que sinalizar que estamos na direção certa.

Se eu não passar essa mensagem, à frente do cargo em que estou, posso sugerir para os 200 mil diretores e 2 milhões de professores que estamos vivendo a mesma situação de dez anos atrás. E não estamos. Na verdade, nós começamos a vencer a batalha. Falta muito ainda, mas a tendência é positiva.