Título: Bancos disputam mutuários
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 25/06/2009, Economia, p. 20

Instituições usam o crédito imobiliário, com a oferta de juros baixos e prazos longos, para atrair clientes

O setor habitacional, antigo patinho feio da carteira de empréstimos dos bancos ¿ que somente a Caixa dava grande atenção ¿ transformou-se no canto da sereia de dois gigantes: Banco do Brasil e Bradesco. O objetivo é usar o crédito imobiliário para atrair clientes e, com isso, ganhar mercado. A política mais agressiva nesse segmento, algo inédito no país, beneficia os mutuários, já que as instituições passaram a oferecer crédito com juros mais baixos e prazos longos.

¿O financiamento habitacional vai disparar¿, garante o vice-presidente de novos negócios do Banco do Brasil, Paulo Rogério Cassarelli. De acordo com os dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), o volume de recursos aplicados no setor mais do que triplicou nos últimos anos. Em 2006, os bancos emprestaram R$ 9,5 bilhões. Esse valor pulou para R$ 18 bilhões em 2007 e para R$ 30 bilhões no ano passado. Nesse montante não estão computados os empréstimos feitos com o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Foi esse crescimento que chamou a atenção do Banco do Brasil. ¿Somos novos nesse mercado¿, disse Cassarelli. Na avaliação do vice-presidente do BB, mesmo antes de o governo lançar o programa Minha Casa, Minha Vida o caminho para que o crédito imobiliário se tornasse um bom negócio estava sedimentado.

A mudança na garantia, que passou de hipotecária para alienação fiduciária mesmo nos financiamentos concedidos pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH),trouxe mais segurança aos credores. ¿O mutuário corre o risco de perder o imóvel, se o atraso no pagamento da prestação for superior a 90 dias¿, disse Cassarelli. A possibilidade da retomada rápida do imóvel atrai os bancos que esperavam anos, na Justiça, para conseguir a posse do imóvel .

Diante disso, o Banco do Brasil fez as contas e viu que não podia ficar fora do mercado imobiliário. ¿Cada banco tem a sua estratégia mas, no nosso caso, não podíamos correr o risco de perder um cliente de anos para outra instituição. Só porque, na hora em que ele queria comprar um imóvel, nós não tínhamos como financiá-lo¿, explicou Cassarelli.

O financiamento habitacional deixa o cliente preso ao banco por 20 ou até 30 anos. Durante esse período, segundo o vice-presidente do BB, o mutuário pode se tornar consumidor de outros produtos bancários. ¿Até 2012 o Banco do Brasil espera estar entre as três instituições que mais operam com crédito imobiliário no país¿, justificou Cassarelli.

Concorrência Já a estratégia da Caixa Econômica Federal ¿ instituição que detém sozinha, mais de 60% do financiamento habitacional no país ¿ é diferente. Depois que sentiu o movimento dos bancos privados, entre eles o Bradesco, de ampliar prazos e derrubar juros para conquistar clientela, a Caixa resolveu se mexer. O banco já trabalhava com prazos de 30 anos, mas decidiu cortar os juros.

¿Temos como estratégia sempre oferecer as melhores condições aos nossos clientes¿, disse o vice-presidente de Governo da instituição, Jorge Hereda. Ele admitiu que os bancos privados estavam chegando perto das condições oferecidas pela Caixa. ¿Sempre precificamos os nossos produtos de olho no mercado. Pudemos reduzir os juros porque ganhamos em escala, produtividade e redução de custos nesse período¿, acrescentou.

Na frente Na busca pelos clientes de relacionamento de longa duração, o Bradesco saiu na frente. No fim do mês passado o banco anunciou que passaria a trabalhar com prazo de 30 anos e juros de 8,90% ao ano mais TR (Taxa Referencial de Juros) para os imóveis na faixa de até R$ 120 mil. Em 2009, o Bradesco planeja conceder crédito imobiliário da ordem de R$ 5,5 bilhões, sendo R$ 1,8 bilhão para os mutuários, pessoas físicas, com renda de até três salários mínimos. ¿Se houver demanda para mais, não vai faltar dinheiro¿, garantiu o superintendente executivo de crédito imobiliário da instituição, Cláudio Borges.

Segundo ele, a estabilidade econômica fez com que o crédito imobiliário ficasse mais atrativo. Além disso, na opinião de Borges, o déficit habitacional do país, de mais de 8,5 milhões de moradias, é elevado, o que mostra o potencial de evolução do mercado. ¿As pessoas que moram hoje com a família ou de aluguel precisam de um primeiro imóvel¿, avaliou.

De acordo com o superintendente do Bradesco, com o crédito imobiliário o banco tem condições de estabelecer um relacionamento de longo prazo com o cliente. Durante esse período, nada mais natural que o cliente tenha uma conta na instituição, o que abre espaço para o consumo de outros serviços bancários. Borges acredita que, daqui para a frente, o cliente só ganhará com a briga acirrada dos bancos pelo financiamento imobiliário. O Bradesco, por exemplo, tem cerca de 20% do mercado e quer crescer.

SEU BOLSO

Faça as contas A primeira coisa que o comprador de um imóvel deve fazer antes de assinar o contrato de financiamento é verificar se a prestação cabe no seu bolso. Por isso, não faça malabarismos e nem invente renda.

Lembre-se que um financiamento habitacional é um contrato de longo prazo, que vai pesar no seu orçamento por muitos anos. É bom fazer as contas direitinho, listar todos os débitos e ver se sobra 30% da sua renda para o pagamento da prestação. Esse limite é o máximo que os bancos permitem. Para não ficar apertado, se puder, comprometa menos.

Se o seu orçamento for folgado, não hesite em pegar um empréstimo com um prazo menor. Faça as contas. Quanto mais longo o prazo, menor é o valor da prestação. A conta ao final do financiamento, no entanto, vai pesar. Quem pega um financiamento por 30 anos, por exemplo, vai pagar, no fim, muito mais do que quem optar por 25 anos. (VC)