Título: Caciques tucanos pedem moderação a Indio
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 21/07/2010, O País, p. 12

Para eles, "foi possível fazer de um limão, uma limonada", mas nem sempre dará certo

BRASÍLIA. Apesar da avaliação da coordenação da campanha do candidato do PSDB à Presidência, José Serra, de que foi positivo o debate sobre a ligação do PT com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o candidato a vice, deputado Indio da Costa (DEM-RJ), foi orientado a moderar as palavras. A ideia é exercer um controle maior sobre ele. Segundo integrantes da cúpula tucana, dessa vez foi possível fazer de "um limão, uma limonada". Mas nem sempre isso poderá dar certo.

Por isso, a partir de agora as declarações de Indio terão que ser combinadas com o comando de campanha. O próprio Serra foi surpreendido quando a imprensa começou a divulgar a associação feita por Indio entre o PT e as Farc. Segundo relatos, não havia previsão desse tipo de declaração. Mas, diante do fato consumado, Serra decidiu marcar posição, ressaltando que o PT tem relação com as Farc e não com o narcotráfico. Com isso, estabeleceu uma agenda negativa para os petistas.

Na cúpula do PSDB, com a convicção de que nada pega no presidente Lula e sua popularidade de 80%, a ordem é reforçar no PT e na candidata petista, Dilma Rousseff, a ideia de radicais. Há também um reconhecimento de que esse debate não deve render votos para o tucano, mas pode desarranjar a campanha petista e reforçar, por outro lado, o voto de um segmento de eleitores de Serra que têm pânico da radicalização e valorizam o respeito as instituições e os valores democráticos.

Por isso, o candidato tucano também mantém no noticiário críticas à quebra de sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, e à ameaça petista de processar a vice-procuradora eleitoral, Sandra Cureau.

- O PT pensava que ficaríamos acuados. Nada disso. As pessoas que votam em Serra valorizam as instituições democráticas - disse o deputado Jutahy Junior (PSDB-BA).

O próprio PT não esperava que Serra entrasse no debate sobre as relações do partido com as Farc. Os tucanos acreditam que isso amplia o conflito interno, pois Dilma não pode negar a relação. No PT, a avaliação inicial é que Serra ficaria acuado com a ofensiva inicial, inclusive com ações na Justiça contra Indio.

- Fui surpreendido com a decisão de Serra de entrar nesse debate. Achava que isso não ia acontecer. Pelo jeito, ele decidiu dar uma guinada para a direita ao perceber que não deu certo o estilo "Serrinha paz e amor". Foi, então, que Serra resolveu ser troglodita - disse o líder do governo e coordenador da campanha de Dilma, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP).