Título: Globalização de empresas é interrompida
Autor: Nunes, Vicente
Fonte: Correio Braziliense, 25/06/2009, Economia, p. 25

Companhias brasileiras percebem que a crise é mais forte fora do país e reduzem fortemente o ritmo de expansão em outras nações.

Com a crise, ficou desvantajoso para as empresas nacionais ampliarem seus negócios no mercado mundial¿ Zeina Latif , economista-chefe do Banco ING

Gustavo Moreno/CB/D.A Press - 30/3/06 Altamir Lopes, do BC: fluxo financeiro de longo prazo retorna ao Brasil

A crise internacional, que levou a economia do planeta para o buraco, fez com que as empresas brasileira botassem um pé no freio em seus projetos de internacionalização. Dados do Banco Central mostram que muitas companhias estão se desfazendo de negócios fora do país e trazendo o dinheiro de volta. Esse movimento, segundo a economista-chefe de Banco ING, Zeina Latif, está associado à falta de perspectiva de recuperação do consumo mundial até 2010 e da necessidade de reforçarem o capital no Brasil. Somente em maio, o retorno de investimentos brasileiros diretos (IBD), como gostam de falar os especialistas, atingiu US$ 1,456 bilhão. Em junho, até o dia 24, voltaram outros US$ 748 milhões.

Para se ter uma idéia da mudança de postura do empresariado, em 2008, os investimentos além das fronteiras do país somaram US$ 20,4 bilhões. Já no acumulado dos primeiros cinco meses deste ano, o saldo de investimentos foi de apenas US$ 944 milhões. Ou seja, a continuar o fluxo de retorno verificado desde maio, muito provavelmente, o total de dinheiro retornando ao país superará o volume enviado. O dinheiro dos brasileiros estava indo, principalmente, para as Ilhas Cayman (um paraíso fiscal), para os Estados Unidos, Reino Unido e Portugal, esses três últimos, mergulhados em uma profunda recessão.

¿Com a crise, ficou desvantajoso para as empresas nacionais ampliarem seus negócios no mercado internacional. Primeiro, porque o dólar, que chegou a quase R$ 1,50, barateando os investimentos lá fora, ultrapassou os R$ 2. Segundo, porque o comércio mundial desabou (cerca de US$ 4 trilhões) e muitos dos investimentos visavam a construção de bases para a exportação¿, ressaltou Zeina. Para completar, há sinais de que a economia brasileira vai se recuperar mais rápido da crise do que a média mundial. Portanto, a hora é de concentrar o fôlego nos negócios no país.

Capital É a perspectiva de retomada do crescimento econômico no país, que deve ficar mais clara a partir do segundo semestre, que também está atraindo recursos de estrangeiros para cá. Ou seja, além de o empresariado brasileiro trazer de volta parte de seus recursos aplicados lá fora, o capital externo está vindo junto. No mês passado, os investimentos estrangeiros diretos (IED) totalizaram US$ 2,4 bilhões, o melhor resultado para meses de maio desde 1947, início da série histórica do Banco Central. Para junho, segundo o chefe do Departamento Econômico da instituição, Altamir Lopes, o IED deverá ficar positivo em US$ 1,5 bilhão, sendo que US$ 1,2 bilhão havia sido contabilizado até ontem.

Mas o interesse dos estrangeiros pela economia brasileira não está restrito ao setor produtivo. Também o fluxo de investimentos em ações e em renda fixa (títulos públicos, principalmente) voltou a crescer. Tanto que, segundo Altamir, o BC foi obrigado a rever suas projeções. Até o mês passado, acreditava que haveria saída de US$ 10 bilhões da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e da renda fixa. Agora, aposta em um saldo positivo de US$ 3 bilhões. ¿Essa virada de US$ 13 bilhões é um reflexo de tudo o que já ocorreu até agora¿, disse. ¿Mas não dá para dizer que voltamos à normalidade¿, destacou.

Na avaliação de Altamir, o importante é que os fluxos de longo prazo estão voltando para o Brasil, inclusive as linhas de crédito. Em junho, a taxa de rolagem dos empréstimos chegou a 340%. Quer dizer: para cada US$ 100 que estavam vencendo em dívida no exterior, as empresas não só renovaram esse valor como pegaram mais US$ 240. É verdade que esse resultado está contaminado pela captação de US$ 1 bilhão feita pelo BNDES. Se descontada essa operação, a taxa de rolagem ficaria em 99%, superior à média de 55% até maio. Outro dado relevante: o BC elevou a projeção de saldo comercial de US$ 17 bilhões para US$ 20 bilhões, apostando em um recuo maior das importações, por causa da menor atividade econômica. O resultado disso será um déficit menor nas transações correntes do país com o exterior, de US$ 16 bilhões para US$ 15 bilhões.

IED

Os Investimentos Estrangeiros Diretos (IED) são fundamentais para a economia brasileira, pois o país não tem poupança suficiente para construir ou ampliar fábricas e para criar empregos. Nos últimos anos, o capital externo se espalhou por todos os segmentos econômicos. Neste ano, por exemplo, dos US$ 11,2 bilhões aplicados aqui, 11% foram destinados ao setor agrícola, 54,5% para a indústria e 34,5% para serviços. O Banco Central estima que há hoje no Brasil US$ 342 bilhões em investimentos estrangeiros diretos.