Título: Ministro de Chávez mostra proposta de paz a Lula
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 27/07/2010, O Mundo, p. 29
Chanceler venezuelano inicia pelo Brasil discussões sobre crise com a Colômbia, tema de reunião da Unasul em Quito
BRASÍLIA. O chanceler da Venezuela, Nicolás Maduro, reuniuse ontem à noite com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para, segundo ele mesmo, apresentar as razões pelas quais o presidente venezuelano, Hugo Chávez, rompeu relações diplomáticas com a Colômbia, na semana passada.
Maduro disse que começou, pelo Brasil, um giro aos países da região para construir uma proposta de paz, que será apresentada na quinta-feira, durante reunião de chanceleres da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em Quito, requisitada por Caracas após a ruptura das relações com Bogotá. Ele não detalhou qual será a proposta.
Maduro irá, a partir de hoje, para Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, Peru e Bolívia. Pela manhã, ele já havia se reunido com o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Antonio Patriota, que classificou a conversa como boa.
Temos tido situações muito complexas nos últimos dias, que são de conhecimento da opinião pública. Começamos pelo Brasil, por orientação do presidente Chávez, um giro para conversar amplamente sobre o tema, para informar os governos do continente sobre as circunstâncias que se desenvolveram nos últimos dias e a necessidade de um plano de paz, para consolidar a paz na nossa região disse o venezuelano, completando: Vamos ampliar a informação e levar uma mensagem do presidente Chávez, uma proposta que levaremos a Quito. Queremos compartilhá-la, consultá-la, ampliá-la e chegar a Quito com todo um processo de discussão e intercâmbio.
Ao mesmo tempo em que o chanceler venezuelano encontrava Lula, o presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, se reuniu com a presidente argentina, Cristina Kirchner, e seu marido e secretáriogeral da Unasul, Néstor Kirchner que está mediando a crise diplomática entre Caracas e Bogotá.
O encontro de Santos que realiza viagem a seis países da América Latina para estreitar os laços com líderes da região antes de tomar posse no dia 7 de agosto com o casal K ocorre um dia antes de uma visita do chanceler venezuelano à capital Argentina, onde também deve se reunir com os Kirchner.
Na semana que vem, Néstor Kirchner e Lula devem se encontrar, separadamente, com Chávez, e assistir à posse de Juan Manuel Santos, na Colômbia.
Também está previsto um encontro de Kirchner com o atual mandatário da Colômbia, Álvaro Uribe, às vésperas de deixar a Presidência.
Num possível esforço de reconciliação, o vice-presidente eleito da Colômbia, Angelino Garzón, elogiou a declaração de Chávez na qual pedia à guerrilha colombiana que reconsiderasse sua estratégia armada.
Valorizo altamente as recentes declarações do presidente Hugo Chávez quando disse à guerrilha colombiana que não tem mais sentido a sua existência.
É importante encontrar caminhos para não permitir a existência de grupos armados ilegais em nenhum (dos países da região) afirmou Garzón.
Na semana passada, Chávez afirmara que não há condições para que as guerrilhas possam assumir o poder na Colômbia em um prazo previsível, logo deveria rever sua estratégia armada para não constituir uma desculpa para os Estados Unidos influenciarem a Colômbia.
Ontem, inclusive, a Venezuela denunciou à Organização das Nações Unidas (ONU) um plano agressivo contra a soberania e a integridade territorial do país, que seria impulsionado por Álvaro Uribe, em cumplicidade com o governo dos EUA.
Respondendo à ameaça de Chávez de suspender as exportações de petróleo aos EUA se Washington apoiasse um eventual ataque armado a seu país, o Departamento de Estado americano negou a intenção.
(Caracas) não deveria estar em nenhum tipo de alerta relacionado com os Estados Unidos. Não temos nenhuma intenção de fazer ações militares contra a Venezuela afirmou P.J. Crowley, porta-voz do Departamento de Estado.
Colômbia substitui cúpula militar a pedido de Santos Os EUA são o principal comprador do petróleo venezuelano, recebendo cerca de 1,4 milhões de barris diários. Apesar da tentativa americana de conter a tensão, a Venezuela anunciou o reforço da presença de soldados em dois estados fronteiriços com a Colômbia de 500 militares a 1.100.
De acordo com um general venezuelano, Chávez emitiu a ordem de alerta depois de romper relações diplomáticas com o país vizinho, e esse é o primeiro movimento de tropas desde então.
Do outro lado da fronteira, Uribe substituiu a cúpula militar a pedido de Juan Manuel Santos.
Um dos destituídos é o general Fredy Padilla, que enfrenta um processo no Equador pelo ataque, em 2008, a um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colombianas (Farc) em seu território o que abalou as relações colombianas com Quito e Caracas.