Título: UE aprova sanções sem precedentes contra o Irã
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Fonte: O Globo, 27/07/2010, O Mundo, p. 29

Medidas proíbem investimentos na área de combustíveis. Teerã reage e diz que aceita negociar

BRUXELAS e TEERÃ.

A União Europeia (UE) aprovou ontem sanções de uma rigidez sem precedentes contra Teerã. O novo pacote de restrições vai muito além das sanções aprovadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) no mês passado e atinge sobretudo o setor petrolífero, fazendo crescer a pressão para que Teerã encerre seus esforços nucleares. Afirmando estar pronto a voltar à mesa de negociação sem condições, o Irã deu logo após o anúncio europeu um sinal de que pretende retomar as conversas sobre seu controverso programa nuclear: afirmou que havia enviado uma carta à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), na qual se mostrava pronto a retomar as negociações.

A clara mensagem dessa carta é a completa prontidão do Irã em negociar, sem nenhuma condição, sobre o combustível para o reator nuclear declarou o enviado iraniano à AIEA, Ali Asghar Soltanieh.

UE é maior parceira comercial de Teerã A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, considerou a disposição do Irã positiva, mas disse que precisava analisar os detalhes antes de comentar sobre o assunto.

Principal parceira comercial de Teerã, a UE afirma que as sanções foram aprovadas não para punir o Irã, mas para tentar uma solução negociada. Elas fazem parte de uma estratégia de mão dupla adotada pelos países europeus: sanções de um lado, e negociações do outro. Diplomatas da UE afirmaram que poderiam se reunir com o Irã já a partir de setembro. A última vez que o Irã negociou com as potências sobre seu programa nuclear foi em outubro de 2009, mas não houve avanço na questão.

Em maio, o Brasil e a Turquia firmaram um pacto no qual o Irã aceitaria trocar 1.200 kg de urânio por material nuclear enriquecido a 20% para uso médico.

O texto foi rejeitado pelo Grupo dos Seis que reúne os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU e mais a Alemanha , sob alegação de que o acordo não impede que o Irã produza a bomba atômica.

Teerã nega a intenção, e afirma que seu programa nuclear tem finalidade pacífica.

A questão agora é saber se o presidente Mahmoud Ahmadinejad concordará em pôr fim ao seu programa nuclear, como exigem os membros do Conselho de Segurança da ONU.

Sanções atingem produção de petróleo e gás Dentre as medidas anunciadas pela UE, destaca-se particularmente a proibição de qualquer investimento, transferência de tecnologia ou assistência ao setor de petróleo e gás iraniano. A decisão pode representar um duro golpe para o Irã, que, apesar de ser o quinto maior exportador de petróleo, não tem capacidade de refinamento para atender à demanda doméstica e logo deve importar 40% do combustível consumido internamente.

Este mês, apenas três carregamentos de gasolina chegaram ao Irã, segundo a agência de notícias Reuters. O normal para o período seria entre 11 e 13 carregamentos, o que mostra que o setor de combustível pode já estar comprometido devido às sanções aprovadas em junho.

Os setores bancário e de transportes também serão afetados pelas novas imposições da UE. O Guardiões da Revolução Exército ideológico do regime iraniano será particularmente visado, com restrição de vistos e aplicação de sanções às estruturas que comandam.

Para que as medidas adotadas sejam mais eficazes, a UE lançou um apelo a outros países para que apoiem suas decisões.

Ontem, o presidente russo, Dmitry Medvedev, qualificou as críticas contra ele proferidas por Ahmadinejad de inaceitáveis.

O presidente iraniano havia acusado Medvedev de atuar contra o Irã a mando dos EUA, referindose à afirmação do russo de que Teerã estaria perto de possuir o potencial de construir armas nucleares.