Título: Mantega defende que BC atue no câmbio
Autor: Beck, Martha; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 28/07/2010, Economia, p. 25

Ministro se diz favorável à medida para evitar especulação no mercado futuro. Dólar sobe 0,17%

BRASÍLIA e RIO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, defendeu ontem que o Banco Central (BC) atue no mercado futuro de câmbio ou mesmo limite a exposição cambial das instituições financeiras para evitar movimentações especulativas com o real. Nos últimos dias, segundo relato de operadores, o BC consultou alguns bancos sobre o interesse em operações de swap cambial reverso (que equivalem à compra de dólares no mercado futuro). Ontem, o dólar chegou a cair 0,62% pela manhã, mas, depois das declarações de Mantega, passou a subir e fechou o pregão em alta de 0,17%, a R$ 1,770.

Ao comentar o déficit recorde nas contas externas do Brasil que triplicou em relação a 2009 e ficou em US$ 23,7 bilhões no primeiro semestre de 2010 Mantega afirmou que esse é o preço do sucesso pago pela economia brasileira. Segundo o ministro, se houvesse alguma preocupação concreta do mercado em relação às contas externas, o real estaria sofrendo alguma desvalorização, o que não está ocorrendo. O dólar acumula queda de 1,88% frente ao real este mês. No ano, a moeda americana sobe 1,67%.

Eu sou favorável que o Banco Central, quando achar que o câmbio (real) está se valorizando por causa de operações no mercado futuro, tem que atuar disse Mantega. A atuação no mercado futuro pode ser por swap reverso ou por limitação de exposição cambial das instituições financeiras.

Se o Banco Central achar oportuno, ele o fará.

Para Mantega, déficit externo recorde é o preço do sucesso Mantega, no entanto, afirmou que não vê nesse momento uma forte ação especulativa no mercado. Apesar de as instituições financeiras estarem aumentando sua posição vendida ou seja, estarem apostando na alta do real o ministro afirmou que esse movimento não é forte: Está aumentando a posição vendida. Ela está em US$ 13 bilhões ou US$ 14 bilhões, mas não é tudo isso, porque forte seria entre US$ 30 bilhões e US$ 40 bilhões.

Além das declarações de Mantega, ajudou na alta do dólar ontem um leilão de compra da moeda no mercado à vista pelo Banco Central. A autoridade monetária comprou algo entre US$ 350 milhões e US$ 400 milhões, segundo estimativas das mesas de câmbio das corretoras.

Francisco Carvalho, da BGC Liquidez, diz que o dólar estaria sendo negociado abaixo do patamar de R$ 1,75 sem a sinalização de desconforto com a atual cotação da moeda passada pelo BC e por Mantega.

Mas o analista afirma que, em algum momento, esses sinais não serão suficientes para segurar a moeda e a autoridade monetária precisará atuar de fato no mercado futuro.

Sobre as contas externas do país, Mantega afirmou que o déficit recorde é resultado do sucesso da economia brasileira e não ameaça o crescimento do país nem aumenta sua vulnerabilidade.

Mantega fez questão de dizer que a situação é temporária e vai se equilibrar a partir do próximo ano.

Esse déficit é o reflexo de um fato positivo. É claro que eu preferia que isso não estivesse ocorrendo. Mas a única maneira de o Brasil não ter um déficit hoje seria estar crescendo 2% e não os 7% previstos para 2010 disse o ministro. É algo passageiro e se deve ao descompasso do Brasil em relação a outros países afetados pela crise. É o preço do sucesso.

Ele afirmou que o fato de a economia nacional estar mais aquecida tem feito com que o Brasil aumente suas importações.

Enquanto as exportações estão subindo a um ritmo de 27%, as compras do país no exterior crescem quase 40%.

Tesouro capta no mercado externo US$ 750 milhões Ontem, o Tesouro Nacional conseguiu fazer uma captação de US$ 750 milhões no mercado externo por meio da emissão do título Global 2021.

A operação foi realizada nos Estados Unidos e na Europa, mas poderá ser estendida para a Ásia em até US$ 75 milhões.

Segundo os técnicos do Ministério da Fazenda, a captação foi vantajosa para o governo, pois o Tesouro vai pagar aos investidores a menor taxa já negociada para um título denominado em dólares: 4,547% ao ano. O Global 2021 foi lançado em abril de 2010. Na ocasião, o Tesouro conseguiu US$ 787,5 milhões com uma taxa de retorno para o investidor de 5% ao ano.

A taxa de juros foi baixa, porque a demanda foi boa. O governo aproveitou um bom momento no mercado disse um técnico do governo.

O governo fez apenas duas captações de recursos no mercado externo este ano, ambas com o Global 2021, levantando US$ 1,537 bilhão.