Título: Casos de hepatite cresceram em até 5.375%
Autor: Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 29/07/2010, O País, p. 15

Governo quer aumentar vacinação contra tipo B em 163%. Imunização será ampliada a jovens de até 24 anos em 2011

BRASÍLIA. O número de casos de todos os tipos de hepatite cresceu bastante em todas as regiões brasileiras, entre 1999 e 2009. Os registros de hepatite A, doença contraída a partir da ingestão de alimentos e água contaminada, subiram mais de 1.000% neste período. No caso da hepatite B, transmitida principalmente por relações sexuais, o aumento foi de quase 3.000%. E nos números da hepatite C, a que mais mata no Brasil - e é transmitida em maior medida por transfusão de sangue -, o salto foi de 5.375%.

No período de dez anos, 20.073 pessoas morreram de hepatite no Brasil, de acordo com dados divulgados ontem pelo Ministério da Saúde.

Centro-Oeste registrou maior aumento de hepatites A e B

A hepatite A acomete, ao todo, 179.522 brasileiros - a maioria (88.533) pessoas com menos de 13 anos de idade. A região que mais registrou aumento nos casos de hepatite A foi o Centro-Oeste, que passou de 58 casos para 1.399, um incremento de 2.312%.

Já a hepatite B foi detectada até hoje em 96.044 pacientes. Novamente o Centro-Oeste se destacou no incremento de casos, passando de apenas cinco em 1999 para 1.709 no ano passado (34.000% a mais).

Os casos de hepatite C - 60.908 em todo o Brasil - cresceram mais no Nordeste, que registrou apenas um doente em 1999 e 639 no ano passado (63.800% a mais).

Nem sempre o problema é diagnosticado, já que o vírus pode levar décadas para se manifestar. Sendo assim, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que um número bem maior de brasileiros esteja contaminado sem saber. Para a hepatite B, a estimativa da OMS é que pelo menos dois milhões a tenham, e para hepatite C a estimativa é que três milhões sejam portadores no país.

Uma das causas do aumento dos casos pode estar relacionada à diminuição do uso de preservativos, já que as relações sexuais desprotegidas são importantes fontes de contágio.

- Houve queda no uso de preservativos em todas as faixas etárias - reconheceu Mariângela Simão, diretora do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do ministério.

Hepatite B atinge os mais jovens

O perfil dos portadores das diferentes hepatites varia. Como a B está ligada à sexualidade, os jovens adultos são o público-alvo. Já a hepatite C atinge grupos mais velhos, em especial aqueles que receberam doações de sangue até a década de 1980. Mariângela observou que esta última é uma doença silenciosa e contra a qual não há vacina.

A estratégia anunciada ontem, Dia Mundial do Combate a Hepatites Virais, pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, é aumentar a oferta de vacinas contra a hepatite B em 163% no ano que vem. A imunização, hoje oferecida somente aos menores de 19 anos, será ampliada para jovens de até 24 anos em 2011; em 2012, para os de até 29 anos. Em relação à hepatite C, a meta do governo é investir na prevenção. No ano que vem, será realizada uma campanha nacional de combate à doença, e os postos de atendimentos aos pacientes passarão a distribuir preservativos.

- Os números apontam para a necessidade de que especifiquemos ações de combate a essas doenças. E o governo vem investindo no combate às hepatites virais. No terceiro trimestre de 2010, 8.000 pacientes estarão em tratamento para hepatite B, e 10.500 para hepatite C - disse Temporão.

Desafio é aumentar número de testes no país

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Hepatologias, Raimundo Paraná, um dos grandes desafios é aumentar o número de testes no Brasil. Segundo o ministério, em 2009 foram feitos 9 milhões de exames, mas nem todas as unidades de saúde do SUS estão preparadas para oferecer o teste. Esta é uma das metas do governo anunciadas ontem.

Presentes à solenidade, os ex-craques da seleção de 70 Jairzinho, Félix e Paulo César Caju entregaram a Temporão uma camisa da seleção. Os jogadores daquela época fizeram parte de um grupo de risco por conta de práticas comuns nos vestiários como o uso de uma mesma seringa para injetar medicamentos nos atletas com infiltração.