Título: Ameaça à venda de petróleo
Autor:
Fonte: O Globo, 26/07/2010, O Mundo, p. 25

Hugo Chávez diz que cortará fornecimento para EUA se Colômbia o atacar

BOGOTÁ E CARACAS

Em um comício do Partido Socialista ontem em Caracas, o presidente Hugo Chávez aprofundou a crise diplomática com a Colômbia, ao ameaçar cortar as exportações de petróleo para os EUA caso a Venezuela sofra um ataque militar de Bogotá. Chávez acredita que a ação teria o "império ianque" por trás. A ameaça é a mais recente de uma série motivada, segundo analistas, para desviar a atenção dos venezuelanos da crise econômica, a poucos meses das eleições legislativas.

- Se houver qualquer agressão armada contra a Venezuela vinda do território colombiano, ou de qualquer outro lugar, promovida pelo império ianque, vamos suspender o fornecimento de óleo para os EUA, mesmo que tenhamos que comer pedras - afirmou. - Não mandaremos uma gota para as refinarias americanas.

O petróleo é responsável por mais de 90% das exportações venezuelanas. Seu principal parceiro comercial são os EUA. Se abrisse mão dos dólares americanos, a economia chavista entraria em colapso.

Chávez, que viu sua popularidade cambalear por não tirar o país de uma profunda recessão, tem usado a disputa com a Colômbia para recuperar a simpatia do eleitorado. Sem o apoio popular, o resultado das eleições legislativas de setembro pode minar sua base aliada.

A crise diplomática ainda não foi abordada publicamente pelo presidente eleito da Colômbia, Juan Manuel Santos, que assume o cargo em 7 de agosto. Ele vai se encontrar hoje, em Buenos Aires, com o presidente da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), Néstor Kirchner. O mesmo será feito pelo Conselho dos Chanceleres do bloco, que terá uma reunião na quinta-feira.

Chanceler exige recuo colombiano

O chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, declarou ontem que só um recuo de Santos, ao assumir a presidência da Colômbia, possibilitaria a retomada das relações bilaterais.

- Esperamos uma grande retificação do próximo governo. Se há respeito, haverá coexistência, convivência e cooperação - anunciou.

Embora o governo chavista anuncie ter esperanças de que a relação bilateral volte ao normal com a mudança no comando do país vizinho, é provável que as tensões não arrefeçam. O presidente eleito foi ministro da Defesa da Colômbia em 2008, e, quando ocupava o cargo, autorizou o bombardeio de um campo de guerrilheiros no Equador. Chávez, em resposta, mandou tropas para a fronteira de seu país com a Colômbia, orientando-as a deter qualquer incursão semelhante em seu território.

Chávez rompeu relações diplomáticas com a Colômbia na terça-feira, quando este país encaminhou à OEA uma série de evidências que provariam a existência de campos das Farc no território vizinho, próximo à fronteira colombiana. A Venezuela negou a existência dos acampamentos.