Título: Oi prepara aquisições para enfrentar rivais
Autor: Rosa, Bruno; Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 30/07/2010, Economia, p. 29

Com injeção de dinheiro da Portugal Telecom, empresa buscará alternativas em Brasil, Argentina e Venezuela

Bruno Rosa, Wagner Gomes e Mônica Tavares

RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA. Após assinar acordo com a Portugal Telecom (PT), a Oi (ex-Telemar) já começa a listar possíveis empresas para adquirir no Brasil e na América do Sul, em países como Argentina e Venezuela. De acordo com uma fonte envolvida na operação, as aquisições tendem a começar já no início de 2011 e visam a fazer frente aos espanhóis da Telefónica, que já somam 232 milhões de clientes na região, e os mexicanos da América Móvil, com 259,3 milhões. A Oi conta com 66,5 milhões de usuários.

¿ A Oi ainda é muito pequena na América do Sul e não chega nem perto dos concorrentes. Por isso, as aquisições têm de acontecer mais rápido. Um nome na lista é a TIM Brasil, que está isolada no Brasil e precisa se associar com alguém ¿ disse essa mesma fonte.

Com capitalização, fatia da PT na Oi será bem maior

Pelo acordo, a PT terá de 22,4% a 23,5% das ações da Oi. Mas essa participação tende a ser bem maior a curto prazo. Isso acontece porque, de acordo com um outro executivo ligado às companhias, os acionistas minoritários da Oi não terão capacidade para acompanhar o aumento de capital de R$12 bilhões da Tele Norte Leste Participações (Grupo Oi) e da Telemar Norte Leste (Operadora Oi):

¿ A chance de isso acontecer é zero. A PT se comprometeu a investir no máximo R$3,7 bilhões. Se outros acionistas minoritários não acompanharem esse movimento, a fatia da PT será muito maior. E os controladores da Oi sabem disso.

A PT também pretende em cinco anos elevar a sua fatia na Oi consideravelmente, diz uma fonte na empresa portuguesa:

¿ O acordo desta semana foi o início de um processo.

A PT vai investir até R$8,44 bilhões para se tornar a maior acionista individual da Oi. Na Telemar Participações, holding que controla a Oi, a PT terá 10% das ações. Para isso, segundo uma fonte, o BNDES irá vender uma parte de suas ações, assim como o fundo de pensão do Banco do Brasil, a Previ:

¿ A ideia inicial é que os fundos de pensão e o BNDES tenham uma participação equilibrada, em torno de 10%. Mas há ainda a hipótese de BNDES e fundos venderem menos ações e não aderirem integralmente à capitalização.

Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, disse que os recursos que virão da PT não serão destinados só ao pagamento de dívida:

¿ A Oi cresceu no primeiro semestre de 2009, mas depois ficou estagnada. No celular, o crescimento ocorreu só em São Paulo. Tem que investir pesado em rede.

Camila Saito, analista da Tendências Consultoria, ressalta que a Oi precisa investir para não ficar atrás da concorrência. Ela ressalta que os grupos que estão se formando, como a Telefónica e a América Móvil, têm fôlego suficiente para brigar, o que significa que a Oi vai precisar investir fortemente em infra estrutura para não perder fatia de mercado.

Luís Fernando Azevedo, analista de investimento da Bradesco Corretora, acredita que parte dos recursos oriundos da PT serão destinados ainda para investimentos no país e ampliação de negócios no exterior:

¿ Uma oportunidade de investimento lá fora pode gerar mais valor para o acionista, mas, para não perder mercado, a Oi terá também de investir.

Com a compra das ações da PT na Vivo, a Telefónica, que passa a controlar sozinha a Vivo, venderá sua fatia na Telecom Italia, dona da TIM Brasil. É de olho nesse cenário que a TIM já procura, há cerca de seis meses, um parceiro nacional, informou ontem um executivo que atua diretamente no setor.

TIM procura governo para buscar sócios no Brasil

Segundo uma fonte, a TIM chegou a manter contatos no governo para tentar uma composição que, no entanto, ainda não foi possível. Isto porque está descartado um aporte de recursos de bancos estatais, como o BNDES, o Banco do Brasil e a Caixa em novo negócio.

Também foi cogitada uma parceria entre a TIM e algumas empresas do setor de construção civil ¿ no rol das grandes empreiteiras. Preocupados com o fato de o negócio ser de capital intensivo, com tecnologias que precisam se renovar constantemente, esses grupos recuaram e preferiram se concentrar na área de energia.

Uma saída para a TIM seria uma fusão com a Global Village Telecom (GVT), que atua em telefonia fixa e em banda larga e é controlada pela francesa Vivendi, após um duelo de preço com a Telefónica.