Título: Negociação é prova importante para bloco
Autor:
Fonte: O Globo, 30/07/2010, O Mundo, p. 33

Fruto de iniciativa brasileira, Unasul tenta reduzir influência de Washington na região

Adauri Antunes Barbosa, Jailton de Carvalho e Renata Summa

SÃO PAULO, BRASÍLIA e RIO. O governo brasileiro aposta todas as fichas na Unasul (União de Nações Sul-Americanas) como o principal fórum para resolver o conflito entre a Bogotá e Caracas em torno da suposta presença de guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na Venezuela. Mas a decisão é vista com reservas por especialistas em política internacional, sobretudo por ser considerado um bloco ainda fraco.

Fruto de uma iniciativa da diplomacia brasileira, a Unasul que reúne os 12 países da América do Sul teve origem em 2004 numa tentativa de fazer um contraponto à Organização de Estados Americanos (OEA), ainda sob forte influência de Washington.

Cético quanto ao real poder da Unasul, Eduardo Viola, professor de Relações Internacionais da UnB, acredita que o bloco ainda não está pronto para uma negociação dessa envergadura.

A Unasul é uma estrutura frágil, quase simbólica. Em parte foi criada pela dificuldade de consolidação do Mercosul afirma.

Segundo Viola, a solução depende muito mais do Brasil do que da Unasul. Mas neste momento o país estaria impedido de cumprir tal papel porque o presidente Lula se aproximou demais da Venezuela e, com isso, acredita Viola, perdeu a confiança de Álvaro Uribe.

Um real contraponto à OEA poderia surgir a partir das eleições presidenciais deste ano, no Brasil e em outros países, segundo o professor da Unicamp Reginaldo Moraes.

As eleições podem representar um provável caminho para que avance diz.

Para Alcides Costa Vaz, professor de Segurança Internacional da Unb, a entidade é um fórum importante, mas ainda em fase de consolidação.

Sua eficácia dependeria do grau de adesão dos países, e a tentativa de reaproximação entre Venezuela e Colômbia seria uma prova importante para o bloco no momento.

A Unasul ainda precisa de uma maior valorização de seus membros. O caso colombiano é exemplo disso. A Colômbia preferiu buscar primeiro a solução na OEA lembra Vaz.

O venezuelano Edgar Dulander, da Universidade Central da Venezuela, discorda.

A Unasul é o melhor lugar (para resolver a crise). Quando houve o conflito na Bolívia (em 2008), a Unasul foi capaz de encontrar uma solução adequada, que dificilmente seria alcançada no âmbito da OEA. Isso mostra que a Unasul tem possibilidades reais de atuar como um organismo regional opina.

Para Dulander, o fato de a Colômbia ter escolhido a OEA como foro de discussão diz mais respeito à presença dos EUA nesse órgão do que a uma fragilidade da Unasul.

Obviamente, a Colômbia preferiria a OEA para discutir seus problemas, pois lá conta com o apoio incondicional dos EUA, mas o país reconhece que não pode se excluir da América do Sul, então aceita discutir nesse âmbito.

O porta-voz da presidência da República, Marcelo Baumbach, reafirmou que a Unasul é o foro adequado para as negociações. Isso, segundo ele, não excluiria discussões na OEA.

A Unasul é um foro privilegiado, e o Brasil sempre acreditou nisso, para a solução deste tipo de controvérsia. São coisas paralelas. Uma não prejudica a outra disse Baumbach.