Título: Em 2 eleições, R$ 4,6 bi em verba privada
Autor: Ribeiro, Marcelle
Fonte: O Globo, 24/07/2010, O País, p. 4

PSDB é o partido mais beneficiado pelas maiores empresas, com 24,12% da preferência, seguido por PT, PMDB e DEM

SÃO PAULO. Os recursos investidos pelas mil maiores empresas do Brasil no financiamento das eleições saem principalmente do setor de construção civil e são direcionados aos quatro maiores partidos do país, segundo pesquisa do Instituto Ethos e da Transparência Internacional divulgada ontem. Elas investiram cerca de R$ 500 milhões nas campanhas eleitorais de 2006 e 2008. O valor responde por 10% do total do financiamento privado das campanhas, que, nesse período, somou R$ 4,6 bilhões.

Os outros 90% (R$ 4,1 bilhões) são doações de empresas de médio e pequeno porte, pessoas físicas, recursos próprios dos candidatos e repassados pela iniciativa privada diretamente a partidos e de transferências de outros candidatos.

O PSDB foi o partido mais beneficiado pelas maiores empresas, com 24,2% da preferência, seguido de PT (com 21,2%), PMDB (com 15,2% da preferência) e DEM (13,2%). Quando se analisa as doações feitas por todos os tipos de financiadores, o PSDB continua sendo o partido preferido para receber recursos, com 17,8%, seguido do PT (16%), PMDB (15,8%) e DEM (10,5%).

Menos da metade (48%) das mil maiores empresas (segundo ranking da revista Exame) aparece como financiadora de campanhas: são 486 doadoras, que responderam pelos cerca de R$ 500 milhões. De acordo com o Ethos, as dez mais importantes doadoras contribuíram com entre R$ 6 milhões e R$ 23 milhões cada.

Um quarto das contribuições feitas pelas maiores empresas saiu do setor de construções empresas como Andrade Gutierrez, Camargo Correia, OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão. Depois aparece o setor de bens de consumo, que compreende gigantes da indústria de alimentos como Bunge e Sadia, responsável por 12,4% das doações das mil maiores.

A indústria de metalurgia e siderurgia aparece com 12,1% das doações, que saíram de empresas como CSN e Gerdau.

Segundo o Ethos, os financiamentos privados nas eleições têm crescido. As eleições municipais de 2008 custaram R$ 2,8 bilhões, valor bem mais alto que a eleição federal (presidente, senador e deputado federal), estimada em R$ 824 milhões e estadual (para governadores e deputados estaduais), que custou R$ 924 milhões. Em 2008, os investimentos privados no pleito municipal foram quase o triplo do de 2004, quando foi de cerca de R$ 1 bilhão.

Ou está havendo um crescimento de valores investidos mesmo ou a Justiça Eleitoral está apertando mais a fiscalização, e os dados estão sendo mais declarados disse o autor do estudo e professor da Unicamp, Bruno Speck.

Para efeito de comparação, o volume de financiamento público, via Fundo Partidário, gira em torno de R$ 210 milhões por ano, para todos os partidos. Os dados da pesquisa do Ethos foram obtidos com as prestações de contas dos candidatos e comitês financeiros das eleições estaduais e federais