Título: Corrida diplomática para mediar conflito
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Fonte: O Globo, 24/07/2010, O Mundo, p. 33

Além da disputa de influência entre Unasul e OEA, Lula propõe intermediar diálogo BRASÍLIA. A eclosão da crise entre Colômbia e Venezuela causou ontem uma frenética movimentação diplomática no continente. Na presidência temporária da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), o presidente do Equador, Rafael Correa, decidiu convocar, em breve, uma reunião de chefes de Estado, enquanto o secretáriogeral da organização, Néstor Kirchner, confirmou encontros separados com os presidentes Hugo Chávez, em Caracas, e Álvaro Uribe, em Bogotá, em agosto. Em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, também entraram em cena.

Fontes do Palácio do Planalto e do Itamaraty elogiaram a postura da Unasul, por chamar para si a responsabilidade pela mediação diplomática.

Mas, mesmo assim, Lula telefonou ao colega venezuelano e confirmou sua visita a Caracas no próximo dia 6 de agosto, agendada antes da crise.

Ele também planeja assistir à posse do novo presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em Bogotá, no dia 7 aproveitando as duas ocasiões para tentar negociar uma saída com os mandatários de ambos os países.

Coube a Marco Aurélio conversar, por telefone, com o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, e com o secretário-geral da Unasul, Néstor Kirchner, que vai se reunir com Chávez no dia 5 de agosto, e com Uribe no dia seguinte.

Em Florianópolis, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, criticou Chávez pelo rompimento com a Colômbia, chamando-o de um gesto espetaculoso que não contribui para a paz na América Latina. Defendendo a necessidade de o Brasil ter papel de pacificador no conflito, ele voltou a relacionar o PT de Dilma Rousseff às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

Num comunicado, o Departamento de Estado americano disse que as denúncias da Colômbia devem ser levadas muito a sério e afirmou que a Venezuela tem obrigação de agir para prevenir a possível presença de grupos armados ilegais em seu território.

Para analistas, a prontidão com a qual a Unasul respondeu ao imbróglio diplomático expõe a clara tentativa de afastar das negociações os EUA membro da OEA e maior aliado da Colômbia no continente. Ontem, em Washington, o embaixador da Venezuela na organização, Roy Chaderton, resumiu a posição de Caracas: Em qualquer negociação em que os EUA não estão presentes, tudo se resolve melhor.

Apimentando disputas de influência nos bastidores, o presidente do Equador, Rafael Correa, responsabilizou o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, por não ter evitado a crise. Desde a semana passada, o governo equatoriano tentava adiar a convocação da reunião extraordinária da entidade por considerar assunto delicado as acusações da Colômbia. Correa queria consultar outros países antes do encontro e acusa Insulza de pressionar por sua realizaçãosem consulta prévia, conforme o regulamento da OEA. Insulza, no entanto, rechaçou as críticas.

Falei com o chanceler da Colômbia (Jaime Bermúdez), mas não houve disposição para adiar a reunião. Não há absolutamente nada que eu possa fazer a respeito alegou.