Título: Crescimento foi possível às custas de arrocho salarial
Autor: Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 01/08/2010, Economia, p. 38

BERLIM. Heiner Flassbeck, 59 anos, ex-vice-ministro da fazenda da Economia, vê o novo boom alemão com preocupação. O diretor do departamento de Globalização e Estratégias da Unctad, agência para Comércio e Desenvolvimento da ONU, diz que a Alemanha praticou ¿dumping salarial¿ nos últimos anos.

A retomada do crescimento na Alemanha com a ajuda das exportações pode aumentar o desequilíbrio entre os países do euro?

HEINER FLASSBECK: Sim, porque isso foi possível às custas do arrocho salarial na Alemanha. Pela teoria neoliberal, com a redução dos salários, espera-se o aumento do número de empregos. Mas na Alemanha isso não aconteceu, embora os salários mal tenham subido nos últimos 15 anos. O único aspecto positivo do dumping ocorre em relação ao estrangeiro. Mas essa economia forte de exportações põe outros países da zona do euro em dificuldades. Só porque a Alemanha está na união monetária e os outros não podem desvalorizar suas moedas, isso tem um grande efeito positivo para suas exportações. Já países como Grécia, Portugal ou Espanha sofrem de déficit (comercial) porque não têm competitividade.

Ou seja, o desequilíbrio continua e a crise do euro não foi ainda superada?

FLASSBECK: A crise não foi superada, foi apenas encoberta. As medidas tomadas evitaram o pior, mas a crise pode explodir de novo a qualquer momento.

O que então deveria ser feito?

FLASSBECK: A Alemanha, como todos os países do mundo, precisa deixar os salários reais subirem de acordo com a produtividade. (Graça Magalhães-Ruether)