Título: Alemanha volta a crescer e analistas já falam em um boom econômico
Autor: Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 01/08/2010, Economia, p. 38

Crise deixou trauma nos alemães, que estão cautelosos e poupam mais

CONTÊINERES EM Hamburgo: exportação cresceu na Alemanha, que já superou a crise econômica

BERLIM. Mesmo os mais otimistas não projetavam os dados que acabam de ser divulgados sobre a economia da Alemanha. A tradicional locomotiva da União Europeia voltou a crescer, e muito. Analistas já falam em boom depois que o Ministério da Economia divulgou previsão de crescimento de 2,3% para este ano, situação ainda melhor para o próximo ano, aumento enorme das exportações e clima mais otimista no consumo interno, que é tradicionalmente o ponto mais fraco. Mas a maior crise econômica do país desde a Segunda Guerra deixou um trauma e ainda há muita cautela.

¿- A crise ainda não foi inteiramente digerida ¿ disse Jürgen Hambrecht, presidente do gigante químico Basf, ao divulgar os números positivos da empresa na semana passada.

A Basf aumentou seu volume de negócios no segundo trimestre em 94%, mas assim mesmo procura frear o otimismo geral. Há ainda sinais de insegurança. As flutuações do euro ¿ que no inicio do ano valia US$1,45 em relação ao dólar, caiu em junho para US$1,18 e agora vale US$1,31 ¿ e os temores nos principais mercados importadores dos produtos made in Germany, como Estados Unidos, reduzem um pouco o entusiasmo geral.

Grandes empresas tiveram resultado positivo

Todas as grandes empresas alemãs tiveram um aumento forte dos lucros. A Siemens teve um aumento de 22%. A Volkswagen duplicou os seus negócios no segundo trimestre, passando para 1,99 bilhão.

Ferdinand Fichtner, analista do Instituto de Pesquisa Econômica de Berlim, um dos cinco que abastecem o governo de informações, disse que não há dúvida de que a crise acabou.

¿ A maior crise econômica que o país já teve nas últimas décadas foi definitivamente superada ¿ disse ao GLOBO.

A maior surpresa para o governo e os analistas foi a redução do desemprego. Frente a 2009, o número de desempregados caiu em 271 mil, para 3,192 milhões. A Agência Federal de Trabalho espera para outubro queda para menos de três milhões, o que ocorreu pela última vez antes da reunificação, há 20 anos.

Com a redução do desemprego, melhorou o clima de consumo interno. Segundo a Sociedade de Pesquisa de Consumo, o bom desempenho da seleção alemã na Copa da África do Sul teve um efeito positivo. No primeiro trimestre, quando as exportações deram um salto de 15%, o consumo interno sofreu um retrocesso, mas voltou a crescer (2,5%) no segundo trimestre.

Fichtner lembra, porém, que as crises mundial e do euro deixaram um trauma nos alemães. O povo que, tradicionalmente, já gostava de poupança, passou a economizar ainda mais com medo de crises. Se os americanos costumam poupar, em média, 4% do que ganham, a taxa de poupança é de 12% na Alemanha.