Título: Empresas ainda temem associar marcas a gays
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 01/08/2010, Economia, p. 42

Grupo fará pesquisa para mapear perfil de consumo do segmento

SÃO PAULO. O coordenador da área de Sustentabilidade e Gestão Ambiental da Fundação Getulio Vargas (FGV) e professor da Unicamp, Reinaldo Bulgarelli, afirma que o preconceito existente nas empresas com relação à associação de suas marcas e atividades a grupos de gays e lésbicas varia de país para país. Ele lembra ainda que não há provas de que uma marca seja contaminada ao ser associada a grupos homossexuais.

¿ Muitas multinacionais que fazem isso lá fora não reproduzem as ações no Brasil ¿ afirma Bulgarelli.

Não é o caso do banco espanhol Santander, um dos observadores presentes às reuniões da Câmara de Comércio GLS e uma das empresas mais ativas em políticas orientadas a esse público, sejam funcionários ou clientes. Em 2005, por exemplo, o Santander ampliou para casais do mesmo sexo os benefícios de previdência privada, assistência médica e odontológica dados aos funcionários heterossexuais. Em 2006, o banco criou a primeira carteira de crédito imobiliário para casais de mesmo sexo que querem comprar imóveis.

¿ Participamos da Câmara porque temos uma política interna de valorização da diversidade e atendemos a clientes que são gays e lésbicas. Então é natural que nos associemos a instituições que possam nos abastecer de informações relativas a esses públicos ¿ diz Maria Cristina Carvalho, superintendente-executiva de Recursos Humanos do Santander.

Estabelecimentos gays sofrem pressão

Dispostos a fazer o que Douglas Drumond, presidente da Câmara de Comércio GLS do Brasil chama de ¿trabalho de casa¿, a câmara encomendou ao Ibope o orçamento de uma pesquisa para levantar as principais estatísticas do chamado mercado de consumo gay, cujas reais dimensões ainda se baseiam mais em estimativas informais que em números confiáveis. O projeto custará R$220 mil, recursos que Drumond espera arrecadar de associados e patrocinadores.

¿ Costumo dizer às empresas que apoiar este levantamento é um tipo de compensação por faturarem com uma comunidade que costuma consumir muito ¿ diz Drumond. ¿ Mas o problema básico continua sendo a garantia de vida dos negócios.

Explique-se: há cerca de um ano, as boates gays paulistas Cantho e A Lôca receberam visitas da Polícia Civil numa ação que, segundo a Secretaria Estadual de Justiça, não passou de vigilância rotineira. Mas, para Drumond, foi uma pressão velada para inibir os negócios, pressão que geralmente parte de associações de moradores que não gostam do público GLS na vizinhança. Essa ameaça, diz ele, é um pesadelo à sobrevivência dos negócios, mas também a força que empurrou os empresários à aglutinação num grupo que possa responder por todos. (Gilberto Scofield Jr.)