Título: Irã recusa oferta de Lula
Autor: Yanakiew, Monica; Summa, Renata
Fonte: O Globo, 04/08/2010, O Mundo, p. 33

Presidente diz que ainda tentará salvar a vida de condenada a apedrejamento

Monica Yanakiew, Renata Summa e Rossana Maurell

BUENOS AIRES, TEERÃ e RIO

Apesar de ter sua proposta de asilo à iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani condenada ao apedrejamento por adultério rejeitada e considerada ingênua pelo Irã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que continuará a fazer gestões diplomáticas e humanitárias para salvar sua vida.

Embora tenha admitido que não conhece profundamente as leis da república islâmica, Lula afirmou que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, permanecerá em contato com as autoridades iranianas.

Pressionador por campanhas na internet por sua intervenção junto ao governo de Teerã, o presidente tinha oferecido asilo à Sakineh durante um um comício eleitoral de Dilma Rousseff, no sábado. Ontem, no entanto, o porta-voz da Chancelaria iraniana, Ramin Mehmanparast, rejeitou a proposta e alegou que o brasileiro desconhece detalhes do caso.

Pelo que sabemos do senhor Lula, ele tem um caráter humano e emotivo e provavelmente não recebeu informações suficientes (sobre o caso).

Podemos dar detalhes dos crimes dessa pessoa, que foi condenada, e creio que o tema ficará esclarecido para Lula explicou o porta-voz.

Ao ser informado das declarações, na cidade argentina de San Juan, onde participava da reunião do Mercosul, Lula retrucou: Fico feliz que o ministro do Irã tenha percebido que sou um homem emocional. O que fiz não foi um pedido de asilo. Fiz um pedido mais humanitário do que uma coisa política.

Segundo Lula, há 15 dias, o chanceler Celso Amorim discutiu o caso com autoridades iranianas. O presidente brasileiro evitou comentar a política de direitos humanos do Irã, alegando não ter conhecimento suficiente. Mas, destacou que o Brasil costuma respeitar as regras, costumes e leis dos outros países. Lula disse ainda que, por sua história pessoal e política, não poderia aceitar que alguém seja preso por divergir da opinião do governo.

O destino de Sakineh está na Suprema Corte do Irã. Teerã afirmou que iria rever o caso, mas não deu novos detalhes sobre a suspensão ou mudança da pena da acusada. Ontem, a agência de notícias Jahan News afirmara que, em vez de apedrejada, Sakineh poderia morrer enforcada.

Segundo Mina Ahadi, coordenadora da Comissão Internacional contra o Apedrejamento e representante da iraniana, o filho de Sakineh foi informado que terá novas informações amanhã e está esperançoso.

Nosso advogado foi chamado em Teerã para saber o parecer da Justiça.

Acredito que ela não será morta nos próximos dois meses. Foi muito boa a intervenção de Lula, isso aumenta a repercussão do caso na opinião pública disse Mina, retirando as críticas feitas previamente ao presidente.

Para ela, uma eventual mudança de pena para o enforcamento pelo governo iraniano poderia ser, ao menos, um indicador de mudanças.

Para a lei iraniana, apedrejar é prova de poder, deixa claro o quanto o regime é forte para matar quem quiser.

É o pior que pode acontecer a um iraniano. Então, ao optar pelo enforcamento, pareceria um relaxamento da sentença; é um modo de mostrar ao mundo que o Irã não é completamente inflexível, mas que não vai desistir de sua lei avaliou.

Ela lembra, no entanto, que Sakineh é inocente.

Não há prova de nenhum crime cometido por Sakineh, apenas o fato de que fez sexo. Ela já era viúva, não traiu, não era adúltera.Tivemos acesso à toda documentação secreta da Corte iraniana. Ela está sendo condenada por um tabu sexual acusa.

Defesa de Teerã na Argentina

Sakineh, de 46 anos, já levou 99 chibatadas pelo envolvimento com dois homens, depois da morte do marido e, posteriormente, foi acusada de adultério, o que resultou em prisão e sentença de morte.

A visível discórdia entre os governos do Brasil e do Irã sobre o caso não afetará as relações bilaterais entre esses dois países, segundo garantem assessores da Presidência.

Teerã e Brasília têm se aproximado recentemente, sobretudo após as tentativas de mediar o controverso programa nuclear iraniano.

Na Argentina, em seu discurso na cúpula do Mercosul, Lula voltou a defender o diálogo com o país sobre o desenvolvimento do programa nuclear e reafirmou sua postura contrária às duras sanções econômicas impostas pela ONU aos iranianos.

Lula não hesitou ainda em defender o Irã junto à presidente argentina, Cristina Kirchner governo exige a extradição de diversas autoridades iranianas, entre elas, o ministro da Defesa, Ahmad Vahidi, pelo envolvimento no atentado que matou 85 pessoas na sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1994.

Eu, Cristina, não conhecia o presidente do Irã, até que um dia, o encontrei na ONU e decidi conversar com ele afirmou Lula a Cristina.

O que me deixa profundamente chateado é que nenhum dos presidentes, dos poderosos do Conselho de Segurança, conversou com ele justificou o presidente.