Título: Brasil não perdeu batalha das exportações
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Fonte: O Globo, 05/08/2010, Opinião, p. 6

As exportações brasileiras estão voltando aos patamares pré-crise financeira internacional. O montante exportado em julho último, de US$ 17,6 bilhões, só é inferior ao de igual mês de 2008. E esse resultado foi obtido sem que as vendas para os mercados americano e europeus tenham se recuperado completamente.

Minério de ferro, petróleo e soja se destacaram na pauta de exportações, fazendo com que os produtos básicos atingissem 44% do total das vendas este ano. Tal desempenho reflete a forte demanda por matériasprimas, insumos e alimentos em grandes economias emergentes, como é o caso da China e da Índia, e tem provocado uma discussão sobre a perda de dinamismo dos itens manufaturados, que há alguns anos vinham liderando as exportações brasileiras.

Na verdade, houve recuperação também das vendas de bens industrializados, porém em ritmo mais lento que o dos produtos básicos.

A valorização do real certamente dificulta a conquista ou a manutenção de mercados para manufaturados, mas, se o câmbio for a principal fonte de estímulo às exportações desses produtos, estaremos em maus lençóis.

É que a cadeia de produção desses itens geralmente envolve também o pagamento de salários mais altos na Ásia, a enorme oferta de mão-de-obra neutralizou essa pressão, mas países como a Coreia do Sul, Cingapura ou Taiwan já não contam com esse tipo de vantagem comparativa.

Se câmbio depreciado e salários baixos fossem condições indispensáveis para viabilizar exportações de bens industrializados, a Alemanha não seria ainda hoje a maior exportadora mundial desses produtos.

O Japão igualmente não acumularia elevados superávits em sua balança comercial.

A economia brasileira já se encontra num estágio em que não é mais possível apoiar exportações em cima de salários baixos ou câmbio depreciado.

O mercado interno propicia à indústria brasileira uma escala que viabiliza ganhos de produtividade, se houver investimentos nessa direção (de certa forma, isso já vem acontecendo em vários segmentos e muitas empresas). Mas é preciso que, da porta para fora da fábrica, da mina ou da fazenda haja uma eficiente estrutura de transportes, armazenagem e comercialização. A exportação não pode ser onerada com impostos ou burocracia desnecessária. Ineficiências nesses fatores citados compõem o chamado Custo Brasil, e a política de apoio às exportações deve se concentrar em um esforço para reduzi-lo.

Exportar mais bens industrializados é sem dúvida importante para o país, embora não seja demérito ter hoje uma variada pauta de vendas de produtos básicos. O agronegócio, a mineração e o petróleo embutem alto conteúdo tecnológico na produção, e nesses três segmentos o Brasil está na linha de frente.

Especificamente no caso da agricultura, sempre é bom frisar que os Estados Unidos continuam sendo os maiores exportadores desses produtos. A China é o maior produtor, mas é obrigada a importar alimentos para abastecer sua enorme população.