Título: Temer dialoga com galerias e irrita oposição
Autor: Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 05/08/2010, O País, p. 13

Para deputados, presidente da Câmara atua como candidato

BRASÍLIA. Líderes da oposição ensaiaram ontem críticas à condução dos trabalhos da Câmara pelo deputado Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Casa e vice na chapa da petista Dilma Rousseff. Os deputados se surpreenderam com os muitos e incomuns diálogos entre Temer e pessoas nas galerias, diante da pressão dos manifestantes para a votação de propostas polêmicas e de apelo eleitoral, em sessão de anteontem. Para alguns, na atuação de Temer, em muitos momentos, falou mais alta a condição de candidato.

- Isso é antecipação do horário político gratuito. Ele está tangenciando a legalidade, se arriscando. A interpretação é a de que está usando o cargo para influenciar na eleição. Já basta o presidente (Lula) que não cumpre a lei. (Temer) começou a se arriscar demais. Vamos ver como ele se comporta na próxima convocação para ver se entramos com representação no TSE - afirmou o líder do DEM, deputado Paulo Bornhausen (SC).

O tucano Arnaldo Madeira (SP) disse que pediu aos seus assessores estudo sobre a possibilidade de mudar a Constituição e impedir que o chefe do Legislativo que dispute a eleição mantenha-se no cargo.

- O presidente do Legislativo é quem decide a pauta de votações, o que irá ao plenário. Isso pode favorecê-lo como candidato - disse.

Na sessão de anteontem, Temer dialogou várias vezes com manifestantes que pressionavam pela votação de matérias como a emenda constitucional que institui o piso nacional de policiais e bombeiros, a chamada PEC 300. Ele chegou a anunciar que, se a base aliada não desse quórum para votar uma das três medidas provisórias que trancam a pauta, convocaria uma sessão extraordinária para votar o segundo turno da PEC 300.

Diante disso, os manifestantes aplaudiram o presidente da Câmara. O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), foi vaiado quando insistiu que não seria possível concordar com a votação da PEC 300 antes das MPs. Temer condenou as vaias e disse que se a galeria não se comportasse encerraria a sessão.

O corregedor-geral da Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), admite que é difícil separar o presidente da Câmara do candidato, mas defende Temer e afirmou que ele não está extrapolando:

- É impossível separar as coisas, do mesmo jeito que não tem como estabelecer censura prévia para quem fala na tribuna. Ele também pode. Mas não acho que ele esteja usando o cargo para campanha.

Temer disse que não comentaria a questão. Seus aliados argumentam que ele sempre dialoga com as galerias, até para acalmar os ânimos.