Título: Cacciola depõe hoje à Polícia Federal no Rio
Autor: Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 05/08/2010, Economia, p. 30

Em inquérito instaurado em 2001, ex-banqueiro é acusado de controlar rede de chantagem e grampos ilegais

Contrariado com a recente decisão da Justiça que impediu sua progressão de regime e depois de duas passagens pela solitária do presídio Bangu 8, o ex-banqueiro Salvatore Alberto Cacciola é aguardado hoje à tarde na Polícia Federal do Rio para prestar depoimento. Cacciola é suspeito de supostamente ter controlado uma rede de chantagem, grampos ilegais de telefones e pagamento de subornos em janeiro de 1999, às vésperas da mudança do regime cambial brasileiro.

O inquérito 2901 foi instaurado em maio de 2001, mas como Cacciola passou vários anos na Itália, ficou acumulando poeira na Delegacia de Repressão aos Crimes Financeiros (Delefin) da PF no Rio. O depoimento de hoje será o primeiro de Cacciola neste inquérito.

O ex-banqueiro é acusado de oito crimes, entre os quais formação de quadrilha, vantagem indevida, patrocinar interesse privado perante a administração pública, influir em ato praticado por funcionário público e oferecer vantagem. Cacciola foi intimado pelo delegado Fábio Scliar, que agora preside as investigações. Várias pessoas devem ser ouvidas, entre elas três conhecidos arapongas do extinto Serviço Nacional de Informações (SNI).

Cacciola cumpre pena de 17 anos e 6 meses em Bangu 8 Cacciola hoje cumpre pena de 17 anos e seis meses em regime fechado no presídio Petrolino Werling de Oliveira (Bangu 8). O ex-foragido número 1 da Justiça brasileira que, beneficiado por um habeas corpus em 2000 fugiu para Roma, na Itália, protegido por sua dupla cidadania divide a cela com 20 detentos, todos de nível universitário. E, como mostrou reportagens do GLOBO, passou dois períodos na solitária, num total de 45 dias, e teve seu pedido de progressão de regime negado por mau comportamento entre outras coisas, o ex-banqueiro xingou um agente penitenciário.

As acusações contra Cacciola são de um momento conturbado da moeda brasileira. Em 1999, o BC elevou o teto da cotação do dólar de R$ 1,22 para R$ 1,32. Na contramão do mercado, os bancos Marka (de Cacciola) e FonteCindam haviam assumido pesados compromissos em dólar e tiveram prejuízos gigantescos com a desvalorização do real. O Banco Central acabou socorrendo os dois bancos.

O inquérito para o qual Cacciola será ouvido hoje investiga se, às vésperas da maxidesvalorização do real, o ex-banqueiro teria controlado uma rede de chantagens. Em 2001, a revista Veja publicou reportagem revelando um suposto esquema montado em 1999 por Cacciola contra Chico Lopes, então presidente do BC. Segundo a revista, o ex-dono do Marka teria grampeado telefones e descoberto um suposto esquema de repasse de informações privilegiadas do presidente do BC a um grupo de economistas. Teria sido isso, segundo a Veja, o motivo que levou Chico Lopes a aprovar o socorro ao Marka, provocando um prejuízo de R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos.