Título: Vale vai suprir demanda por insumo para fertilizantes
Autor: Agnelli, Roger
Fonte: O Globo, 06/08/2010, Economia, p. 32
No Peru, mineradora inaugura projeto que ajudará Brasil a reduzir sua dependência. Déficit hoje custa US$ 5 bi
SECHURA (PERU). Num prazo de cinco a seis anos, a Vale planeja produzir mais que a atual demanda brasileira por dois dos principais insumos usados na fabricação de fertilizantes: fosfato e potássio. Hoje, o Brasil consome anualmente 16 milhões de toneladas de fosfato e 7,5 milhões de toneladas de potássio. O problema é que o país importa 50% do fosfato e 90% do potássio consumidos, um déficit que custa mais de US$ 5 bilhões por ano aos brasileiros.
Um dos projetos que permitirá alcançar o equilíbrio dessa demanda é a mina de Bayóvar, na cidade peruana de Sechura, inaugurada ontem.
A Vale já investiu US$ 566 milhões nesse que é o primeiro projeto de fertilizantes da empresa a entrar em operação no exterior. A mina inicia suas operações com uma capacidade de extração de 3,9 milhões de toneladas de rocha fosfática, de onde se extrai o fosfato. Mas já tem planos de ampliação.
A primeira fase de expansão será concluída em 18 meses e custará US$ 300 milhões, ampliando a capacidade da mina para 5,9 milhões de toneladas por ano. A segunda fase elevará a capacidade anual de extração para 7,9 milhões de toneladas até 2014/2015. O valor desse investimento ainda não foi estimado.
Com esses projetos, vamos acabar com o desequilíbrio da oferta de matériaprima para fertilizantes no Brasil disse o presidente da mineradora, Roger Agnelli, ao GLOBO, acrescentando que o Brasil será destino prioritário do projeto, que também vai atender ao mercado local, ao Japão e a outros países.
Empresa quer fabricar fertilizantes no Peru O executivo também afirmou que planeja fabricar fertilizantes no Peru, a partir do fosfato de Bayóvar, desde que haja disponibilidade de gás natural.
Originalmente, o projeto visava apenas à exportação do fosfato em si para Brasil e outros mercados, como México, Estados Unidos e países asiáticos.
Ontem (anteontem) eu conversei com meus sócios e decidimos começar a expansão da mina imediatamente. E, se a gente tiver gás, podemos ir à frente.
Podemos imaginar e sonhar em ter o produto final. O Brasil, o Japão precisam (de fertilizantes).
Precisamos do seu apoio, presidente disse Agnelli, dirigindose ao presidente do Peru, Alan García, também presente na cerimônia de inauguração.
García deu a entender que o pleito de Agnelli seria atendido: O gás de que necessita a Vale é uma necessidade nacional.
Podemos deixar de importar centenas de milhões de dólares.
A Vale é a sócia majoritária do projeto de Bayóvar, com 51% do capital votante e 40% do capital total. Os dois outros são a americana Mosaic e a japonesa Mitsui, que detêm 35% e 25%, respectivamente.
A venda das participações de Bayóvar para essas empresas ocorreu no início de julho, um negócio que movimentou US$ 660 milhões.
Este ano, a produção de Bayóvar alcançará 1,085 milhão de tonelada. Em 2011, será elevada para 2,8 milhões de toneladas.
Somente em 2012 será atingida a capacidade total da mina, de 3,9 milhões de toneladas.
A concessão abrange uma área de 20 mil hectares, sendo que a mina ocupa apenas quatro mil hectares. A vida útil de Bayóvar é de 27 anos.
Ao todo, são 550 empregados na mina, entre diretos e indiretos. Cerca de 90 deles foram treinados no Brasil. Na fase de implantação da mina, havia 1.300 trabalhadores.
A Vale é a única produtora de potássio no Brasil, na mina de Taquari-Vassouras, com 750 mil toneladas ano. A empresa também atua nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás e Paraná. No exterior, a Vale mantém projetos na área de fertilizantes em Argentina, Canadá e Moçambique. Na Argentina, há dois projetos Rio Colorado e Neuquén ambos no Norte do país e que vão produzir potássio. Juntos, eles terão capacidade de produção de 5,35 milhões de toneladas por ano, e a previsão de início de produção é 2013.
Preço do minério de ferro pode cair para US$ 140 No Canadá, o projeto, de 2,8 milhões de toneladas de potássio, está em fase de estudos de viabilidade, ainda sem data para iniciar operações. Em Moçambique, o foco é o fosfato e a capacidade é de 2 milhões de toneladas, também em estágio de estudo de viabilidade.
Ainda ontem, José Carlos Martins, diretor de Marketing, Estratégia e Desenvolvimento de Negócios da Vale, disse que a tendência do preço do minério de ferro para o próximo trimestre é de que a tonelada fique em US$ 140.
Desde abril, a Vale reajusta o minério de ferro em base trimestral.
Segundo Martins, a média dos preços entre julho, agosto e setembro no mercado à vista chinês, que passará a vigorar a partir de outubro, ficará um pouco abaixo dos atuais US$ 150 atuais.
(Da enviada especial)