Título: Um plano na mala para Venezuela e Colômbia
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 06/08/2010, O Mundo, p. 37

Lula leva a Caracas a ideia de usar Conselho da Unasul para evitar penetração da guerrilha nas fronteiras

CARACAS. Convencido da intenção de Juan Manuel Santos, que toma posse amanhã na Presidência da Colômbia, de buscar um diálogo construtivo com o venezuelano Hugo Chávez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desembarca hoje, em Caracas, disposto a conversar sobre uma antiga ideia, que também será levada a Bogotá. Esse plano seria voltado não apenas para o fim dos desentendimentos entre as duas nações, mas traria benefícios para os países na fronteira com a Colômbia.

Para o governo brasileiro, para acabar de vez com a presença de guerrilheiros e paramilitares colombianos em terras venezuelanas, equatorianas e brasileiras, é preciso um plano de ação que abranja, de um lado, o desenvolvimento econômico da região fronteiriça e, de outro, a participação mais efetiva do Conselho de Defesa da União das Nações Sul-Americanas (Unasul).

Aprovado há um ano, após forte resistência do presidente colombiano, Álvaro Uribe, e do próprio Santos, quando ministro da Defesa, o Conselho jamais foi usado para resolver esse tipo de conflito. Segundo fontes, o objetivo da instituição é dar maior transparência, respeitando a confidencialidade, às manobras militares nas fronteiras. A cooperação entre os países, sem a ventilação de frustrações pela imprensa, ajudaria a garantir maior estabilidade à região.

Santos demonstra que quer governar de forma independente das prescrições de Uribe. E ele sabe que, com o avanço no combate aos membros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), eles fogem para países vizinhos comentou uma fonte com trânsito na área militar.

Na avaliação de um alto funcionário do governo brasileiro, a reação de Uribe às declarações de Lula que minimizara a crise entre colombianos e venezuelanos não passou de um ataque de ciúmes de alguém que está deixando o poder. Nos bastidores, o que se diz é que Uribe não se conforma com o fato de Santos ter escolhido um desafeto seu para chanceler: María Ángela Holguín, ex-embaixadora em Caracas e com bom trânsito com o ministro do Exterior venezuelano, Nicolás Maduro.

A impressão positiva que Santos passa ao Brasil é a mesma, segundo a fonte, percebida por autoridades venezuelanas e peruanas.

A Chávez não interessa ter seu nome vinculado às Farc.

Certamente, haverá algum tipo de reaproximação com a Colômbia assim que Santos assumir acredita o analista político venezuelano, Javier Biardeau.

A questão econômica também pesa e justifica o interesse do futuro presidente da Colômbia em se recompor com a Venezuela, apesar das acusações de Uribe de que a presença de membros das Farc em território venezuelano indica um apoio de Chávez à guerrilha. A Venezuela é a principal compradora de produtos colombianos.

Dados mostram que as exportações para o mercado venezuelano caíram cerca de 70% nos início de 2010, antes da ruptura das relações, em julho.

Ontem à noite o secretáriogeral da Unasul, Néstor Kirchner, se reuniu com Chávez em Caracas. O ex-presidente argentino exortou as nações a se respeitarem, e demonstrou gratidão ao líder venezuelano, lembrando que quando a Argentina estava na pior, a Venezuela foi solidária. Tido como principal mediador do conflito entre Caracas e Bogotá, Kirchner deve participar do encontro, hoje, entre Lula e Chávez.