Título: Mantega: é preciso evitar exageros com o real
Autor: Almeida, Cássia; Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 07/08/2010, Economia, p. 32

Ministro diz que procura "coibir abusos" e que cotação um pouco acima de R$ 1,70 é razoável RIO e SÃO PAULO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem, durante inauguração da nova linha de produção da Casa da Moeda, que o real está se valorizando, mas que não se pode permitir exageros com a moeda.

O real hoje é uma moeda forte. O real se valorizou ao longo do tempo, reflexo de uma economia sólida, mas não podemos permitir exageros. Há uma tendência de desvalorização das moedas em países avançados. O dólar se desvalorizou, o iene também e o próprio euro. Isso traz uma desvantagem comercial muito grande. Temos que admitir uma certa valorização, mas procuramos coibir os abusos.

Para ele, a cotação do dólar oscilando um pouco acima de R$ 1,70 é razoável.

Mas o setor exportador gostaria que nossa moeda fosse mais desvalorizada. E nós gostaríamos que a moeda chinesa fosse mais valorizada.

Para analistas, juros e PIB em alta explicam real forte Para analistas, a valorização do real é explicada, por um lado, pelos juros altos praticados no Brasil e, por outro, pelas perspectivas de forte crescimento da economia brasileira. Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, esse cenário, porém, não vai se manter nos próximo anos. Segundo Borges, a Selic, hoje em 10,75% ao ano, deve chegar a 8,5% em dois anos, em movimento contrário ao previsto para os juros nos países ricos.

E a economia brasileira também crescerá mais lentamente.

Em 2010, a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) deve ser de 7%, contra 3,9% da média mundial. Isso atrairá investimento direto estrangeiro para o Brasil e favorecerá a aplicação em Bolsa.

Mas o Brasil crescerá menos nos próximos dois anos, não mais do que 4,5%, enquanto que o resto do mundo terá uma taxa próxima a 4%. Portanto, esse diferencial favorável que existe hoje ao Brasil não permanecerá disse Borges.

Para o economista-chefe da Global Financial Advisor, Miguel Daoud, o real avança por conta de dinheiro especulativo: O dinheiro entra no país disfarçado. Chega aparentemente como investimento direto e é desviado para a especulação, para a compra de juros no mercado futuro e títulos. Perdemos a qualidade da balança comercial e o estímulo ao desenvolvimento produtivo. Só uma moeda equilibrada vai resolver isso.

Antônio Madeira, economista da MCM Consultores Associados, lembra que a valorização do real trouxe mudanças importantes na economia brasileira.

Uma delas é a diminuição da dívida em dólar. O real forte atraiu também investimentos e possibilitou às empresas brasileiras a compra de máquinas e equipamentos no exterior.

Ontem, começou a produção na Casa da Moeda, no Rio, das novas cédulas de real, num investimento de R$ 350 milhões, o que fará a produção alcançar 2,8 bilhões de cédulas por ano.

A capacidade produtiva, no limite, poderá alcançar quatro bilhões, segundo o presidente da Casa da Moeda, Luiz Felipe Denucci. A nova família de cédulas começa a circular em novembro. (Cássia Almeida e Wagner Gomes)