Título: Ministro da Fazenda e presidente do BNDES defendem políticas do banco
Autor: Almeida, Cássia; Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 07/08/2010, Economia, p. 32

Luciano Coutinho atribui críticas à "desinformação" e diz que não há privilégios

RIO e SÃO PAULO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, saíram ontem em defesa da instituição. Anteontem, 12 entidades empresariais lançaram um manifesto em apoio ao banco de fomento, que está sofrendo críticas por financiar grandes empresas com juros subsidiados e por ter recebido um total de R$ 180 bilhões em duas capitalizações feitas por parte do Tesouro Nacional.

Mantega defendeu o reforço do caixa do BNDES e a política de fomento do banco: O ministério usou o BNDES com um dos instrumentos principais para enfrentar a crise em 2008 e 2009. Emprestamos ao BNDES cerca de R$ 200 bilhões para que o setor privado pudesse reagir. Com taxas de juros melhores, mais competitivas com o mundo. O Brasil ainda tem taxa de juros mais altas que o resto do mundo disse Mantega, durante inauguração da nova linha de produção da Casa da Moeda, no Rio.

Coutinho: empréstimos têm avaliações criteriosas O ministro rebateu as críticas de que o banco só empresta para grandes empresas.

Disse que, nos últimos 12 meses, 400 mil empresas foram beneficiadas com financiamentos do banco.

Para sermos competitivos temos que ter taxa de juros mais baixas. Não sei por que alguns resolveram criticar o BNDES, mas a resposta está aí, com o manifesto de dezenas e dezenas de entidades, mostrando o quanto foi importante a ação do BNDES.

O presidente do BNDES, por sua vez, atribuiu à desinformação as críticas à política de concessão de financiamentos mantida pelo banco. Depois de participar de evento ontem, em São Paulo, Coutinho afirmou que não existe privilégios ou qualquer tipo de discriminação.

A concessão (de empréstimos) é feita depois de avaliações técnicas criteriosas, que levam em conta vários fatores como a análise de risco, a perspectiva de rentabilidade e a avaliação sobre se o projeto é sustentável disse ele.

Coutinho defendeu ainda a manutenção da atual política de financiamentos do banco, mesmo depois de passada a fase mais aguda da crise financeira global.

Essa é uma política não só do BNDES, mas também do governo, e implementada para promover uma recuperação mais rápida dos investimentos disse o presidente do BNDES, acrescentando que os desembolsos do banco neste ano devem ficar próximos dos R$ 137 bilhões registrados em 2009.

Por outro lado, em evento no Rio, executivos do setor financeiro defenderam ontem a expansão do crédito privado como alternativa ao BNDES no financiamento às empresas brasileiras.

Executivo pede alternativa autônoma ao BNDES O membro independente do Conselho de Administração da BM&FBovespa, Fabio Barbosa, defendeu o desenvolvimento do financiamento privado de longo prazo no Brasil, para que as empresas não dependam apenas do BNDES. Barbosa foi secretário do Tesouro durante o governo Fernando Henrique Cardoso.

Talvez seja necessária uma alternativa autônoma, autossustentável e de longo prazo disse Barbosa, que também foi diretor de Relações com Investidores da Vale, ao participar do seminário Brasil Competitivo Estratégias e Desafios, promovido por Standard&Poors.

Barbosa destacou que não se trata de uma crítica a A, B, ou C, mas apontou que todos os países bem-sucedidos do mundo têm um mercado de capitais amplamente desenvolvido.

Isso também passa pelo mercado secundário de títulos privados afirmou.

O diretor de Gestão e Estratégia da Bradesco Asset Management, Joaquim Levy, também defendeu a criação de incentivos para o desenvolvimento do mercado de títulos privados.

Levy foi secretário do Tesouro no governo Lula, mas quando a Fazenda estava sob a gestão de Antonio Palocci.

Temos que juntar a seriedade fiscal para permitir a queda dos juros e incentivos para que o investidor compre papéis mais longos