Título: Chávez acena a Bogotá
Autor: Oliveira, Eliane; Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 07/08/2010, O Mundo, p. 37

Ao lado de Lula, venezuelano anuncia envio de chanceler à posse de Juan Manuel Santos

Enviadas especiais CARACAS e BOGOTÁ

Em um primeiro gesto de reaproximação com a Colômbia, após declarar, em 22 de julho último, o rompimento das relações com o país vizinho, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, afirmou ontem que enviará o chanceler Nicolás Maduro a Bogotá, hoje, para participar da posse do novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos. Chávez anunciou a decisão pouco antes de se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário-geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), o ex-presidente argentino Néstor Kirchner, em Caracas.

Sim, (ele) vai confirmou Chávez ao ser consultado sobre as notícias da viagem de Maduro.

Amanhã, à primeira hora, Nicolás vai para Bogotá.

O presidente venezuelano, no entanto, deixou claro: o passo seguinte deverá partir de Bogotá. A ruptura foi decidida após o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, acusar a Venezuela de tolerar a presença de integrantes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), denunciando o caso na Organização dos Estados Americanos (OEA).

O gesto foi confirmado, poucas horas depois, pelo assessor para assuntos internacionais de Lula, Marco Aurélio Garcia, que acompanhou a reunião entre Kirchner e os presidentes do Brasil e da Venezuela. Segundo Garcia, discutiu-se um conjunto de medidas cujo objetivo final será um plano de ação envolvendo os países amazônicos.

O primeiro passo é atenuar o conflito e esta é a missão a ser levada pelo presidente Lula a Bogotá. Só depois discutiremos medidas conjuntas disse o assessor.

EUA ajudam na segurança da cerimônia da posse

Lula se reunirá hoje com Santos, na tentativa de ajudar no restabelecimento das relações entre os dois países, e leva saudações de Chávez, segundo o próprio presidente venezuelano.

Antes mesmo de tomar posse, na tarde de hoje, Santos já deu mostras de que, ao contrário de seu antecessor, pretende melhorar as relações com os vizinhos, especialmente com Equador e Venezuela. Santos mandou a futura chanceler, Maria Ángela Holguín, a Quito entregar um convite ao presidente do Equador, Rafael Correa, que confirmou presença na posse.

Santos faria o mesmo com Chávez, mas foi atropelado por Uribe e pelo próprio venezuelano, ao romper relações diplomáticas. Ao tentar se aproximar do Equador, Santos acabou criando uma crise com o presidente da Bolívia, Evo Morales, que também queria um convite especial.

Morales não irá à posse, alegando que não foi convidado o que a Colômbia nega.

Santos já marcou um encontro hoje com Correa, que também estará na posse. A reunião, uma das primeiras de Santos como presidente, foi vista por Correa como o desejo de normalizar as relações, abaladas desde um ataque a um acampamento das Farc no Equador, em 2008.

Maduro era esperado na base aérea de Catam, em Bogotá, como os outros convidados para a posse, entre eles o príncipe Felipe, da Espanha; a presidente da Argentina, Cristina Kirchner; Felipe Calderón, do México; e Alan García, do Peru.

Representando os Estados Unidos que têm na Colômbia seu principal aliado na região estará o general James Jones, assessor de Segurança Nacional do presidente Barack Obama.

Embora tenha sido ministro da Defesa de Uribe, Santos procura se diferenciar de seu antecessor. Além das relações abaladas com a Venezuela, ele herda outros desafios, como o combate à guerrilha e ao narcotráfico, a geração de empregos e a redução da pobreza.

Acredito que numa primeira etapa ele manterá a mesma política de Uribe em relação à guerrilha. Com o tempo, a guerrilha deverá comprovar que deseja o diálogo. Uma negociação só deve ocorrer na segunda metade de seu mandato acredita o ex-chanceler Rodrigo Pardo.

Santos, de 58 anos, tomará posse sob um forte esquema de segurança, que contou com o auxílio do serviço secreto americano. Patrulhas aéreas, blitz, além de uma força de 22 mil policiais, 4 mil soldados e 800 agentes de inteligência, tentarão evitar ações como a que ocorreu na posse de Uribe, em 2002, quando as Farc dispararam explosivos contra o Palácio Presidencial, matando 20 pessoas. Uribe também está preocupado com a sua segurança. Após deixar o cargo, ele terá como residência em Bogotá uma casa no Centro de Estudos Superiores da Polícia, onde vivem generais, um local com alta segurança.