Título: Inflação nula
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 09/08/2010, Economia, p. 20
Com o IPCA - índice que baliza as metas de inflação estabelecidas pelo governo - próximo do zero em julho, as projeções do mercado financeiro para a alta de preços no Brasil ficaram defasadas. O IPCA anual agora tende a se aproximar de 4,5%, ponto central das metas fixadas para 2010, 2011 e 2012, sem que a taxa básica de juros precise voltar para patamares acima de 11%.
Se esse quadro se confirmar, o Brasil dará mais um salto qualitativo na economia. No passado, a inflação aguda e resistente fazia o país destoar do conjunto da economia mundial. Depois do lançamento do real, o Brasil trocou inflação por dívida pública crescente, turbinada por taxas de juros estapafúrdias (talvez até necessárias, naquele momento). Como a economia brasileira conseguiu subsistir em ambientes tão inóspitos? A jabuticaba - solução tipicamente brasileira - nesse caso parece estar relacionada com a indexação, institucionalizada como correção monetária nos tempos que antecederam o real, e depois como reajustes anuais previstos nos contratos.
A economia brasileira vem se desintoxicando da inflação aguda e da indexação, mas esse é um processo longo, que desafia a paciência de todos nós. Já dura 16 anos e há quem diga que o tempo para "atravessar o deserto" deve ser o de uma geração.
Mas se o país conseguir entrar na próxima década com juros básicos de no máximo 11%, sem artificialismos, não está mais tão distante o dia em que a economia brasileira chegará à normalidade, enquadrando-se nos padrões vigentes no resto do mundo.
O crédito tem se expandido três vezes mais que a média de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O crédito para as pessoas físicas, que ampliou as vendas no varejo, teria contribuído para o PIB evoluir em mais um ponto percentual no período de 2003 a 2008, segundo estudo do BNDES. Na prática, isso significa que o impacto direto da expansão do crédito foi de quase um terço do crescimento médio observado na economia brasileira.
Como a política de combate à inflação se concentra no controle do crédito (as taxas de juros funcionam como inibidoras da procura por financiamentos e das vendas a prazo), o Brasil precisa partir de um patamar de juros básicos anormal, excessivo para os padrões da grande maioria dos países.
Embora sem abandonar a política monetária como instrumento de combate à inflação (pois a ação do Banco Central costuma ter efeitos imediatos, mexendo com as expectativas do mercado financeiro), para "domar a fera" o Brasil certamente precisará de uma contribuição mais efetiva das finanças públicas. O ideal seria que o país eliminasse do cenário o déficit público, por cinco a seis anos. O déficit ajuda a "alimentar" a inflação, mesmo não sendo mais financiado por emissão de moeda.
O déficit é atualmente coberto com a rolagem de títulos da dívida pública (uma fatia dos juros não é paga em moeda, mas sim incorporada ao endividamento, com o lançamento de novos títulos). Para viabilizar essa rolagem, uma parte considerável dos papéis em poder do sistema financeiro recebe uma garantia de liquidez - ou seja, os títulos podem ser temporariamente recomprados pelo Banco Central. Esse mecanismo, que existe há anos, provoca muitas discussões acadêmicas sobre se a dívida pública tem ou não uma característica de "quase moeda". Nesse sentido, a expansão da dívida não chegaria a ter o mesmo efeito de uma emissão de moeda, mas "quase" esse impacto.
Ainda que venha perdendo importância relativa como proporção do PIB, o endividamento público - e seu componente "quase moeda" - não parou de crescer. E por trás dessa expansão está um déficit nas finanças governamentais, que atualmente corresponde a mais de 3% do PIB.
Se as finanças públicas se equilibrassem, fazendo o déficit desaparecer, uma parcela do problema se resolveria. Antes, o Brasil terá de se convencer da importância desse equilíbrio. Até para economistas, essa relação entre déficit público e inflação parece algo muito abstrato, ou muito indireto. E para a maioria dos políticos que despreza a matemática e o raciocínio, parece não fazer sentido.
Visitei o Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte, que ocupa dois prédios históricos da antiga estação central. Os prédios passaram por uma restauração em 2006 e por si só já valem a visita. Mas o acervo é também magnífico, com ferramentas e instrumentos de trabalho usados por artesãos e pequenas manufaturas dos séculos XVIII, XIX e e início do XX.. Faziam parte da coleção pessoal de Angela Gutierrez, que cedeu mais de 1.800 peças para o museu (o Museu do Oratório, de Ouro Preto, também se deve a uma iniciativa dela). Em um prédio anexo continua a funcionar a estação dos trens de passageiros da Vitória-Minas. Por ali trafegam ainda trens de carga e o Metrô de Belo Horizonte, o que torna o museu mais interessante. Como fica em uma região antes degradada e perigosa da cidade, levará um tempo até que o museu figure entre os pontos mais conhecidos e de visitação obrigatória da capital mineira, primeira grande cidade brasileira a espelhar o chamado espírito republicano e a ruptura com o período colonial e monárquico de nossa história.
A previsão para a geração de empregos apenas no município do Rio de Janeiro este ano é de 71 mil postos de trabalho (um crescimento superior a 4%). O Rio tem hoje cerca de 160 mil pessoas desocupadas, o que corresponde a uma taxa média de desemprego da ordem de 5%.
O recorde na geração de emprego ocorreu em 2008, com 93.600 postos de trabalho, segundo o IBGE. Em 2009, o emprego no município cresceu 3,2%, mesmo com a economia brasileira estagnada, na média.