Título: Maratona diplomática
Autor:
Fonte: O Globo, 09/08/2010, O Mundo, p. 23

Chanceler da Colômbia se reúne com colegas de Equador e Venezuela. Chávez vai a Bogotá

BOGOTÁ e CARACAS

Sem perder tempo, o novo governo da Colômbia, empossado no sábado, deu ontem mesmo os primeiros passos de uma maratona diplomática em Bogotá. Enquanto o presidente Juan Manuel Santos recebia diplomatas e ministros que compareceram à sua posse, a ministra das Relações Exteriores, Maria Ángela Holguín, fazia suas primeiras reuniões com os chanceleres equatoriano, Ricardo Patiño, e venezuelano, Nicolás Maduro, numa tentativa de reconstruir as relações entre a Colômbia e os dois países. De Caracas, veio ainda outro gesto conciliatório: o presidente venezuelano, Hugo Chávez, aceitou viajar amanhã a Bogotá para dialogar com o novo presidente colombiano.

O convite foi costurado por Holguín e Maduro numa reunião de mais de três horas em Bogotá.

- Espero que dessa reunião possamos tirar conclusões que nos levem a normalizar as relações entre os dois países - disse Santos.

Além de concordar com o diálogo, Chávez pediu ainda que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) baixem as armas e libertem todos os reféns.

- A guerrilha deveria manifestar-se pela paz com demonstrações contundentes, por exemplo, libertando todos os sequestrados - disse Chávez, em seu programa semanal "Alô, presidente!". - A guerrilha colombiana não tem futuro através das armas. É preciso construir o que (o ex-presidente Álvaro) Uribe destruiu: a confiança.

O venezuelano, no entanto, evitou baixar a guarda quanto aos EUA e rejeitou a indicação do novo embaixador americano em Caracas, Larry Palmer. Chávez disse que não aceitaria o diplomata por ele ter "sugerido que o moral do Exército da Venezuela anda em baixa e que rebeldes colombianos buscaram refúgio no país".

Santos: distância de antecessor

Enquanto isso, a chanceler colombiana, María Ángela Holguín, anunciou estar criando uma agenda para garantir progressos pragmáticos no restabelecimento das relações com o Equador. Após receber o colega de Quito, ela destacou a importância da presença do mandatário equatoriano, Rafael Correa, na cerimônia de posse de Santos.

- Tivemos uma excelente reunião com o chanceler Patiño e é muito importante continuar no caminho de normalização das relações. Estamos definindo uma agenda para obtermos avanços concretos - afirmou.

Patiño, por sua vez, classificou o encontro como significativo. Ele destacou, ainda, como "um gesto de imenso valor" a entrega ao Equador dos computadores do guerrilheiro Raúl Reyes, líder das Farc morto em território equatoriano durante uma incursão do Exército da Colômbia em março de 2008 - episódio que levou à ruptura diplomática entre os dois países.

Segundo o jornal colombiano "El Tiempo", Patiño agradeceu a devolução dos computadores do guerrilheiro e prometeu estudar medidas conjuntas de segurança para evitar a ação da guerrilha na região da fronteira entre os dois países. O governo equatoriano vinha pedindo os discos rígidos dos computadores apreendidos de Reyes desde o anúncio de aproximação, no fim do ano passado. Segundo fontes do governo de Álvaro Uribe, nos arquivos haveria provas de supostos vínculos das Farc com os governos de Equador e Venezuela - acusação que é rechaçada por Quito e Caracas.

Para observadores, a pressa do governo Santos quanto à nova agenda internacional da Colômbia pode ser uma estratégia do novo presidente para distanciar sua imagem do antecessor, Álvaro Uribe, a quem serviu como ministro da Defesa.

- Uribe estava muito focado nos Estados Unidos, que lhe deram US$6 bilhões em ajuda para conter o narcotráfico, olhando mais para o norte do que para o quintal de casa - avalia a analista política Arlene Tickner, da Universidade dos Andes, em Bogotá. - Santos quer as próprias conquistas, sem ser lembrado apenas por dar continuidade à política Uribe.