Título: Golfo do México hoje, pré-sal amanhã
Autor: Almeida, Cássia; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 10/08/2010, Economia, p. 23

Greenpeace faz protesto para alertar sobre problemas na exploração em águas profundas

SÃO PAULO e LONDRES. Um grupo de 15 ativistas do Greenpeace fez ontem um protesto em frente à sede da petrolífera BP em São Paulo.

Eles afixaram uma placa na entrada do prédio comercial onde funciona o escritório de uma das empresas do grupo, a Air BP, que distribui combustível de aviação no Brasil, com os dizeres: BP hoje, pré-sal amanhã.

Os ativistas, com macacão, botas e máscaras, levaram quatro latões pretos, simulando barris de petróleo, para protestar contra o vazamento no Golfo do México, depois da explosão de uma plataforma em 20 de abril que deixou 11 mortos. O líquido farinha com tinta não tóxica e lavável foi derramado na porta do prédio da BP, sendo depois jogados nele animais de pelúcia, como tartarugas e caranguejos. Os manifestantes disseram que tentaram ser recebidos por funcionários da petrolífera, sem sucesso.

Na opinião do coordenador da campanha de Energia do Greenpeace no Brasil, Ricardo Baitelo, os brasileiros devem ficar atentos aos riscos do pré-sal, já que as reservas brasileiras estão a sete mil metros de profundidade, enquanto a BP operava a cerca de dois mil metros de profundidade no Golfo do México.

A extração de petróleo em alto-mar vem causando impacto há muito tempo. Pode acontecer algo pior nas reservas do pré-sal, onde há uma profundidade maior e uma dificuldade maior de extrair esse petróleo. A vocação brasileira é de fontes renováveis disse Baitelo. Temos conversado com o governo, até sobre o marco regulatório do présal, para garantir que se pense numa transição para as fontes limpas.

A Polícia Militar foi chamada, mas não impediu o protesto, que durou cerca de meia hora. Baitelo foi levado para a 96° Delegacia Policial, onde o caso foi registrado como dano. A BP não se pronunciou sobre o protesto.

Em Londres, a petrolífera informou que os custos da contenção do vazamento atingiram US$ 6,1 bilhões, incluindo US$ 319 milhões em pagamentos a empresas e pessoas prejudicadas pelo acidente. Até 7 de agosto, a BP recebeu 145 mil pedidos de indenização, sendo pagos 103,9 mil. Além disso, a empresa depositou a primeira parcela, de US$ 3 bilhões, no fundo criado pelo governo americano para enfrentar os danos do vazamento, cujo total é de US$ 20 bilhões. A BP informou ainda que não há mais vazamentos no local e que o poço de alívio deve completar o fechamento do poço original até o fim desta semana.